...e... através do espelho...
da academia nino-giovanetti...
foi que conheci a lenira...
dançando logo atrás de mim...
posicionada de modo que...
o ângulo oblíquo permitia...
que nós nos víssemos... mutualmente...
ela dentro de sua malha cor-de-vinho...
e eu... usando provavelmente...
minha calça cor-de-rosa-choque...
ou então... a preta...
( que eram minhas duas únicas calças...)...
no final da aula...
ela me pede uma carona...
carona esta que durou cerca de uns sete anos...
que foi a duração do nosso casamento...
... sete ou oito anos...
não sei dizer exatamente...
já que o último ano...
é como se morássemos sob o mesmo teto...
porém completamente separados...
isso já no ano de 1986...
é... então... segundo os cálculos da aritmética elementar...
podemos dizer que o casamento tenha durado uns oito anos...
já que :
o espelho da academia do nino...
nos apresentou um ao outro...
no ano de 1978 :
... 78 mais 8... é igual a 1986...
é isso aí...
...1986...
eu... deitado de bruços no chão-da-sala...
tenho um ataque-de-chôro...
chorando alto...
não conseguindo mais reter...
o chôro contido no meu peito...
um chôro que vinha se acumulando...
já há alguns meses...
tauê e peter...
( nessa época com 7 e 5 anos-de-idade... respectivamente...)...
olham a cena... meio apavorados...
acredito que a criança com essa idade já percebe exatamente...
o que está "rolando"...
sei... por experiencia própria...
como é "chocante" para a criança...
assistir à briga dos pais...
no referencial da criança...
tudo o que ela deseja...
é poder ver os pais numa "boa"...
compartilhando uma harmonia eterna...
felizes são as crianças que tiveram a sorte...
de viver numa casa onde os pais tenham sido... realmente...
carinhosos um com o outro...
e... obviamente... com as crianças também...
... vivendo num lar onde o casal tivesse uma sintonia de mútuo amor...
e de mútuo respeito...
com muita conversa "rolando" entre todos da família...
será que existe uma família assim...?
acho que sim...
deve existir... sim...
nunca vi... nenhuma...
mas... acredito que muitas famílias devem ser assim...
verdadeiramente harmoniosas...
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mas... em 1986... quando a última gota fez com que...
não desse mais para segurar o chôro...
tal cena... era apenas uma consequência natural...
de um casamento que já havia nascido com a semente de que...
um dia... a bomba (relógio) iria "explodir"...
e essa "explosão" se deu em 1986...
talvez uma "explosão" final...
um "acorde" final...
de uma sinfonia com diversas passagens...
... fora do tom...
... um tom menor...
dentro de uma escala diminuída...
... o tom menor da tristeza...
que permeou grande parte de um casamento...
que não trouxe apenas momentos de tristeza...
mas... felizmente... alguns momentos de alegria também...
ou... se for possível abrir as portas para um otimismo ainda maior...
podemos dizer que houve momentos de grandes alegrias...
como por exemplo...
o nascimento do taue e do peter...
e toda a alegria que eles trouxeram... e trazem até hoje...
para o espírito de quem os conhece...
portanto...
tudo isso que estou escrevendo agora...
está longe de ser um "muro-de-lamentações"...
não... ...não obrigado...
a vida é curta...
não vale-a-pena investir muito...
no mundo sombrio das lamentações...
dentro desse retrato-instantâneo que tentei descrever...
sobre meu casamento com a lenira...
( nessas primeiras linhas iniciais...)
tudo não passa de uma tentativa de construir...
um resumo-resumidíssimo do que foi esse objeto-não-identificado...
ou seja :.. o "acontecimento" luis-lenira...
um "acontecimento" que (confesso)...
deixou algumas marcas...
algumas cicatrizes em mim...
e como a espinha-dorsal desses escritos...
é uma tentativa de uma auto-biografia...
haveria uma certa incoerência...
querer "fugir" de tais "cicatrizes"...
querer fingir que elas não existiram...
querer colocar uma "pedra-na-ferida"...
querer "tapar-o-sol-com-a-peneira"...
enfim... tentar fugir dessa narrativa...
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aquele chôro no chão da sala...
em 1986...
era algo ligado a uma dimensão puramente emocional...
mas... durante todo o ano de 1986...
o que "rolava" em minha mente...
era muito mais do que sentimentos emocionais...
existia toda uma "maquinação"...
quase que "matemática" na busca de uma resposta à pergunta:
" onde foi que eu errei..?.."
uma pergunta que...
por mais que eu me esforçasse em obter uma resposta...
( ou uma solução para tal equação...)...
eu jamais teria sucesso...
nessa pesquisa... digamos... "científica"...
simplesmente porque...
a equação era daquele tipo que... simplesmente...
não admitia solução...
( pelo menos no campo real...)...
a pergunta já continha dentro se si... um erro lógico...
era uma pergunta baseada em falsas premissas...
... uma pergunta que já havia nascido...
com uma falha intrínseca...
isso porque...
para responder à pergunta "onde foi que eu errei"...
seria preciso que...
( para que a pergunta fizesse sentido...)...
houvesse um "erro" da minha parte...
para só então... a partir daí...
sairmos a procura do lugar onde o tal "erro" se encontra...
mas...
se não houve "erro" nenhum...
então...
a pergunta perde todo o sentido...
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mas... durante o ano de 1986...
o meu estado-emocional não tinha um equilíbrio suficiente...
para admitir que a questão não era esta : " onde foi que eu errei "...
mas sim... uma questão de tentar entender
a história-de-vida da lenira...
a minha história-de-vida...
a visão-de-mundo dela...
e a minha visão-de-mundo...
e... a partir desses elementos...
compreender... de uma forma natural...
( e sem ressentimentos...)...
o "porque" de não ter dado certo...
o relacionamento...
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quando... em 1978...
eu visualizava a lenira...
através do espelho da academia do nino...
e a via... olhando também para mim...
para mim... ela era apenas uma imagem...
uma imagem expressiva...
mas igual a muitas outras que por lá passaram...
dentro daquele mesmo ângulo da geometria tri-dimensional...
no espaço-especial...
da academia de ballet...
nesse dia... ( do espelho )...
ela... para mim... era apenas uma imagem...
eu... não sabia nada sobre a história-de-sua-vida...
e... reciprocamente... ela não sabia nada...
sobre a história-da-minha-vida...
éramos dois desconhecidos...
ou melhor... dois quase-desconhecidos...
pois... pelo menos...
a imagem através do espelho já havia dado seus primeiros sinais...
( pelo menos de "relance"...)...
mas... na medida em que íamos nos conhecendo de verdade...
saindo juntos... etc...
as possibilidades de um mútuo-revelar...
passavam a ser... sempre maiores...
dependendo do grau-de-maturidade do casal...
os dois aproveitam o tempo em que estão juntos...
para conversar...
para trocar-idéias...
para conhecer a visão-de-mundo... de cada um...
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analisando agora... de longe...
esse aspecto de nossa interação...
vejo nitidamente...
que quase não existia esse tipo de conversa entre nós...
agíamos como sendo uma espécie de "casal-empresa"...
onde cada um tem uma "função-específica"...
sem sobrar muito tempo...
para uma boa conversa...
nos intervalos entre tais atividades específicas...
mas... esse papo de "casal-empresa"...
embora seja uma metáfora interessante...
me parece que não explica as verdadeiras causas...
de um relacionamento que não deu "certo"...
as causas são inúmeras...
tenho já... um "leque" de hipóteses...
mas... ao mesmo tempo me pergunto...
se vale a pena "mergulhar" nesse tipo de tema...
talvez... a melhor opção seja...
deixar o tema em aberto...
deixá-lo provisoriamente em "hold"...
e partirmos para uma narrativa...
menos especulativa...
mais concreta...
que descreva os fatos...
simplesmente como eles aconteceram...
deixando o momento da interpretação-de-tais-fatos...
para um momento posterior...
pois... desta forma...
teríamos algum material concreto (os fatos)... para trabalhar...
e... a partir daí... sim...
poderíamos tecer...
...desenvolver...
teorias...
sobre a personalidade dos (queridos) personagens envolvidos...
na trama... ( não tão "diabólica" assim...)...
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me despeço... (temporariamente)...
desejando tudo-de-bom... para você...
um grande abraço...
...luis antonio...