esse "blog" é uma continuação...

... de  uma  coleção  de  18  cartas...
      que  se  encontra  em...   
http://luisantoniofreire.blogspot.com/

...intro 1... jean-paul-sartre já dizia... "não vai dar certo..."

...meus  caros  amigos...

algo  radicalmente  diferente  está  acontecendo  agora...

antes...  no  blog  anterior...
tudo  começava  com  o  clássico...

... querido  filho  tauê...
... querido  filho  peter...

agora...  não  será  mais  possível...
começar  o  "blá-blá-blá"  dessa  forma...

bem  que  eu...  no  fundo...  queria...

acho  que  é  porque  sempre  tive  muita  dificuldade...
em  mudar...
em  me  deslocar...
em  experimentar  algo  novo...

e...  esse  "fenômeno"  da  super-inércia...
talvez  explique...  o  porque  de  eu  ter  tentado...
nesses  últimos  dias...  pensar  numa  "fórmula"...
onde  eu  pudesse  manter  o...  ( já  tradicional )...

... querido  tauê...
...  querido  peter...

mas...  o  problema  é  que...  neste  caso...
eu  estaria...  "fazendo-de-conta"...  que  eu  estava  escrevendo  só  para  eles  dois...

quando...  na  verdade...  eu  estaria  completamente-consciente...
de  que...  eu  estava...  na  verdade...  escrevendo  num  blog-público...
(  e  não  para  eles  dois  apenas...  como  foi...  realmente  o  caso  anterior...)

e...  nessa  tentativa  de  equacionar  esse  pequeno  detalhe...
(  da  mudança...  ou  não...  do  tradicional...  "querido tauê...querido peter"...)...

ou  melhor...  dentro  de  uma  tentativa  quase-que-obsessiva...
de  pensar  em  alternativas  que  freiassem  a nova  realidade-histórica...
que  impunha  um  novo  endereçamento  ao  discurso  blá-blá-bláziânico...

...considerei  ainda...
a  possibilidade  de  simular  um  discurso  direcionado  ao  tauê  e  ao  peter...

e...  no  entanto...  sabendo  que  ele  iria  acabar  sendo  direcionado...
a  um  leque  maior   de  pessoas...

tudo  isso...  para  tentar  conservar...  o  estado-de-coisas  anterior...

é....  é  a  inércia...
é...    a  resistência  à  mudanças...

algumas  pessoas  tem  mais...
outras  menos...

---   ---   ---

mas  tal  projeto...  não  iria  dar  certo...

me  lembrei  do  jean-paul-sartre...

ele  dizia  que...  é  impossível  alguém  enganar-se  a  si  próprio...

isso  porque...  neste  caso...
o  enganador  e  o  enganado...  são  a  mesma  pessoa...

portanto...  o  enganado  assiste...  ( de  camarote )...
ao  que  o  enganador  está  planejando...
( já  que  são  a  mesma  pessoa...)...

portanto...  não  há  solução  para  o  problema  da  conservação...
do...  "querido  tauê...  querido  peter..."...

infelizmente...  vou  ter  que  mudar...

vou  ter  que  mudar  para...  "meus  caros  amigos"...

não  tem  jeito...
vou  ser  obrigado...  dessa  vez...
a  encarar  a  realidade...

não  estou  escrevendo  apenas  para  voce...  tauê...
nem  apenas  para  voce...  peter...

estou...  escrevendo  para  algumas  outras  pessoas  simultaneamente...

e...  isso  é  mais  intenso...
consome  mais...  adrenalina...

o  surf  agora  não  está  mais  em  waikiki...
está  em  sunset beach...

e...  essa  tensão...
deve  provavelmente  gerar...
uma  perda-na-qualidade  dos  escritos  blá-blá-bláziânicos...

antes  quando  eu  escrevia  só  para  voces...
eu  estava  num...  porto-seguro...

estava  escrevendo  para  pessoas  ( voces )...
que  eu  me  sinto...  completamente  à  vontade...

agora...  não  sei  mais...
para  quem  estou  escrevendo...

e  esse  não-saber...
cria  uma  angústia...

e  essa  angústia...
deverá...  provavelmente...  gerar...
uma  perda-de-qualidade  no  trabalho...

mas...  vamos  ver  o  que  o  tempo  dirá...

na  pior  das  hipóteses...
há  sempre  o  botão  "delete"...
para  ser  acionado...

até  já...
tudo-de-bom...

um  grande  abraço...
                                ...luis antonio....


...intro 2... retornando ao "espírito-das-18-cartas"...

...
...  oi...  com'é  que  tá...?
...  tudo  tranquilo...?


...  é...  realmente...
...  o  que  eu  gostava  mesmo...  era  do  blog  anterior... ( o  das  18-cartas )...

lá  eu  estava  com  os  pés-no-chão...

lá  eu  tinha  um  referencial...

o  referencial  da  minha  própria  história...
tantas  vezes  "navegada"  por  minha  mente...
na  época  em  que  eu  caminhava...
dentro  d'água...
dentro  do  piscinão  natural  de  ala moana...

caminhada  diária...
recomendada  pela  acupunturista...
que  me  ajudou  a  me  curar  da  crise  brabérrima  do  nervo  ciático...

caminhada  diária...  antes  da  natação  diária...
devagarinho...  eu...  minha  amiga acupunturista...  e...  o  mar...
devagarinho...  dia  após  dia...  interagindo  com  as  células  do  corpo-humano...
devagarinho...  realizando  as  reações  físico-bio-químicas...
íamos...  junto  com  uma  alimentação  saudável...
criando  condições  de  uma  melhora...  gradativa...
até  a  cura  total...

mas...  durante  a  fase  da  crise  braba...
eu  não  podia  andar...  e...  não  podia  sentar...

me  arrastava  de  táxi  da  pousada  tipo  hostel  perto  da  faculdade...
pedia  para  me  levar  até  a  praia  de  ala-moana...
ia  deitado  no  banco-de-trás...

me  arrastava  do  táxi  para  a  beira-d'água...
e  lá...  sim...  tudo  voltava  ao  normal...

com  a  gravidade-zero  típica  de  quem  está  imerso  na  água...
tudo  volta  ao  normal...
tudo  se  encaixa  normalmente...
o  disco  da  vértebra  deslocada...  parece  que  encontra  seu  caminho  de  volta  para  "casa"...

é  realmente  uma  boa  terapia...
para  quem  tem  dores  na  coluna...

um  banho  de  mar...  ou  piscina...
em  suma...  um  lugar  onde  a  gravidade...
não  exista  mais...

---   ---   ---

e...  voltando  ao  "menu-principal"...
ou  seja...  ao  assunto  do  início  desse  texto...

sinto  que...
a  tendencia  é  a  de  que...
parece  que  tudo  está  tendendo  a  voltar...
ao  espírito  do  blog-anterior...
ou  seja...  a  um  relato da  história-da-minha-vida...

em  outras  palavras...
percebí...  agora...  nesse  exato  instante...
que  não  tenho  muito  talento  para  escritor-de-ficção...  não...

meu  negócio  é...
continuar  no  "feijão-com-arroz"...
ou  seja...  no  relato  da  história-da-minha-vida...
que  é  algo  mais  simples...

talvez...  algo  bem  mais  viável...
bem  mais  possível...

pois...  ao  relatar  a  história-da-minha-vida...
estou  descrevendo  algo  que  já  existe...  de  concreto...

estou  descrevendo  algo  que  conheço  bem...

...  não  só  por  tê-la  vivenciado...  ( é  claro  )...

... mas  também..  por  ter....  ao  longo  dos  anos...
mastigado...  curtído...  refletído  sobre  ela..
.
...sempre  que  estou  caminhando  numa  praia...
ou...  sentado  numa  privada...

---   ---   ---

portanto...  tal  história  é  um  objeto...
onde...  conheço  bem...

...  não  só  visualmente...
mas...  também...  por  apalpá-la...
e...  sentí-la  como  alguém  sente...  com  o  tato...
uma  anatomia...  um  relêvo...  uma  textura...

---   ---   ---

sendo  assim...

...  adeus  à  pretensão  de  querer  ser...
um  escritor-de-ficção...

conforme  ficou  demonstrado  nesses  dois  primeiros  rascunhos...
desse  novo  ciclo...  (  ciclo  "two"...?...)...

...o  texto  se  direcionou...  mais  uma  vez...
rumo  ao  terreno  da  auto-biografia...

...(  no  caso...  à  história  do  tratamento  da  crise-do-nervo-ciático )...

portanto...  não  vou  insistir  mais...

aceito...  com  prazer...
o  retorno  ao  projeto  anterior..

...  ao  projeto  de  uma  espécie  de  auto-biografia...
.(  sempre  aberta  à  outras  reflexões...  é  claro...)...

a  diferença  é  que  agora...
não  estou  sozinho  apenas  com  o  tauê...  e  o  peter...

estou  com  vocês  também...

presença  que...  ( confesso  )...
às  vezes  me  "assusta"  um  pouco...

mas...  tudo  bem...
muitas  vezes  o  "monstro"  não  é  tão  monstruoso...
quanto  parece...

---   ---   ---

em  resumo:

sinto  um  pouco  a  falta...  da  exclusividade  que  eu  tinha...
com  o  tauê...  e  o  peter...  (  no  ciclo  anterior...)...

lá  eu  estava  bem  à  vontade...

agora...  sinto  que...  às  vezes...  
forças  invisíveis... ficam...  ocasionalmente...  me  sugerindo...
...que  eu...  "cale-a-boca"...

a  barra  agora  é...  um   pouco  mais...
..."barra-pesada"...

mas  tudo  bem...
a  vida  é  um  aprendizado...

quando  é  que  eu...
ao  respirar-fundo...
numa  respiração-yogue-libertadora...
irei  dar  o  passo...

...um  passo  mais  psicológico  do  que  concreto...

rumo  a  uma  escrita  dirigida  à  mais  pessoas...?...

---   ---   ---

sei  que  é  assustador...

o  mundo  se  revela...  muitas  vezes...  de  uma  forma  cruel...
...ameaçadora...

mas...  ainda  bem...  que  existe  a  yoga...

uma  yoga  que  nos  ajuda  a  respirar...
a  lidar  com  esse  mundo...  tantas  vezes  inóspito...

...  de  uma  forma  gandhiana...
amorosa...
pacífica...

...perdoando  aqueles   que  ainda  não  encontraram  um  caminho  bom...
um  caminho  saudável...

... compreendendo  o  mundo...

tentando  não  nos  alienarmos  tanto...

tentando  falar-baixinho...
amorosamente...  com  as  pessoas  que  estão  conosco...

esse  papo  está  até  parecendo  um  "sermão"...
portanto...
...calo  minha  boca...

para  não  criar  conflito...
... com  as...
               ...tais...
                        ...forças-invisíveis...
que  estão...  ocasionalmente  nos  pedindo  para...  "calar-a-boca"...

... um  grande  abraço...
                                    ...luis antonio...


...intro 3... filosofando com carey stanford.. ..


... hello...  everybody...

... ... dos  20  mil  estudantes  do  sistema  UH  de  ensino...  lá  da  university  of  hawaii  at  manoa...  pelo  menos  uma  boa  parte  deles  está  bastante  familiarizada  com  o  nome... "carey stanford"...

... isso  acontece  pois  carey...   por  ser  diretora  de  todo  o  departamento  que  dá  assistência-jurídica  aos  alunos  estrangeiros... ( international students )... está  sempre  em  contacto  com  eles...

... seja  pessoalmente... dando  orientações  de  como  agir  em  relação  à  vistos... etc...

... seja... através  de  emails... onde  está  frequentemente  em  contacto  com  todo  um  número  enorme  dos... "international-students"...

--- --- ---

durante  minha  estadia  lá... como  estudante... primeiro  de  matemática... e... depois... de  música...
eu... como  todo  estudante  estrangeiro... estava... periodicamente  em  contacto  com  ela... no  sentido  de  receber  orientações  relativas  à  renovação  de  visto... etc...

e... como  muitos  outros  professores  de  lá...
a  maneira  com  que  carey  se  relacionava  conosco...
era  uma  maneira  bem  amiga...  informal...
sem...  no entanto... deixar  de  ter...
uma  postura... saudavelmente  profissional...
sempre  que  era  preciso...
sempre  que  era  preciso... orientar...

no  sentido  de  ajudar...... de  compreender...
e... tentar  dar  o  melhor  de  si...
rumo  à  solução  de  inúmeros  problemas-burocráticos  que...
porventura  viessem  a  surgir... conosco...
..."massa"  de  "viajantes"...
perplexos  com  as  várias  faces  do  nosso  querido... hawaii...

... faces  essas... em  sua  grande  maioria...
simplesmente... beirando  a  utopia...
em  relação  à  beleza... e...  qualidade-de-vida...

--- --- ---

ao  chegar  de  volta  ao  brasil...
continuei  trocando  emails  com  carey...

... fato  esse  que  demonstra...  mais  uma  vez...
o  espírito-saudável  que  a  maioria  dos  professores  ( ou orientadores )...  de  lá...
tem  em  relação  aos  seus  alunos  e...  ex-alunos...

em  um  desses  emails... ( que  reproduzirei  logo  abaixo...)...
refletimos  sobre  o  conceito  da  semelhança  entre  os  conceitos  de...
"pai"... e... "lei"...

"pai"... "lei"... "autoridade"...

... palavras... conceitos... que  parecem  ser...
de  certa  forma...  às vezes...  meio...  interligados...

e... é  mais-ou-menos... dentro  desse  contexto...
que  a  carta  vai  se  desenvolvendo...

coloco  aqui...  uma  cópia  dela...

--- --- ---

hi... carey...

on  the  day  that  I  was  sitting  on  the  stairs  that  lead  to
the  cafeteria
at  the  student-center  main-building...

singing  a  sort  of  a  beatles-song  ( or similar )...
with  the  help  of  a  simple... acoustic-guitar...

my  eyes...  suddenly...  found  you...  walking up  the  stairs...
heading  to  the  cafeteria...

it  was  lunch-time...

--- --- ---

I  couldn't  afford  to  distract  my  thoughts  too  much...
at  that  precise  moment...
otherwise  I  might  have  lost  the  right-chords  of  the  song...

but... still... in  a  fraction  of  a  second...
my  mind  captured  your  picture...
walking  up  the  stairs...

you... certainly... did  see  me...
and... discreetly... kept  going  your  way...
as  nothing  different  had  happened...

--- --- ---

but... I  felt  a  little bit...  ashamed  of  myself...

I  felt...

" well... she  saw  me...
doing  this  ( kind of )...  weird  thing...

playing  guitar...
in  a  place...
in  a  situation...

which  doesn´t  fit  too  well...
with  what  people...  normally  do...  here...
at  a  time  like  this  one "...


but  I  had  a  good  excuse  ( to myself )...
of  my  ( abnormal )  behavior...

after  all...  I  was  simply...
... doing  my  homework...

after  all...
I  was  ( formally )  enrolled  on  my  second-degree-bachelor...
... I  was  enrolled  on  the  music department...

--- --- ---

so...  to me...  I had this justification...
which  gave  to  my...  ( unconscious )  mind...  the  excuse...
the  "self-authorization"  to  let  myself  act  so
out-of-the-normal-alignment...

a  self-permission...  to  be  able  to...  ( finally )...  express  myself...
singing  songs...  whose  lyrics...  were  related  to  a  lot  of  things...
which  were  "stuck"  inside  me...

so...  technically...  I  wasn't  doing  anything  wrong...

if  that  ( imaginary )  "cop"  asked  me  about  my  documents...
about  my  permission...
I  would  promptly  tell  him...
that  I  was  just  doing  my  homework...
( as  everyone  else  does...  sitting  on  those  ( well-located )
steps...)...

--- --- ---

actually...  I  wasn't  doing  anything  wrong...
I  was  at  UH...
sitting  on  the  steps...
sitting  on  a  place...
which  is  supposed  to  be  a  place  of  socialization...
...of  relaxation...
a  place  where  it  would  welcome...  anything  civilized...

and...  playing  the  guitar  was  not  an  un-civilized  thing...

--- --- ---

but...  in spite of  having  all  this  "arsenal"  of
justifications  to  myself...
( for  doing  what  I  was  doing...)...

even  so...

I  felt  a  little bit  awkward  when  I  saw  you  passing by...
and...  in  a  very-good-manners-way...
you  kept  walking  normally...
as  nothing  unusual  was  happening...

--- --- ---

maybe...  my  awkwardness  towards  your  ( sudden )  presence...
was  due  to  the  link...  that  my  mind  had  made... ( at that time )...
connecting  you...  to  the  figure  of  a  "law"...

a  "law"  where  it  points-the-finger  towards  anything  that  is  unusual...
...that  is  eccentric...
...that  goes  a  little-bit...  beyond  the  conventional  "rules"...

in  other  words:...
what  was  "shaking-my-head"  at  that  time...
was  the  figure  of  the  concept  of  a  "law"...
I  mean:...

... of  my  father...


my  father  and  the  "law"... were synonyms...

(as  opposed  to  my  mother...)

my  mother  and  the  freedom...
my  mother  and  the  arts...  were  synonyms...

--- --- ---

coincidence  or  not...  ( probably  not )...
my  father  had  passed  away  a  few  months  before  my
serenate-guitar-period...
at  the  stairs  of  the  cafeteria...

my  father  passing  away...
took  away  with  him...
all  the  repressions  that  were  still  remaining...
on  my  unconscious  mind...

from  that  point  on...
I  could  do  things  that  otherwise...
I  wouldn´t  dare  to  do...

( like...  for  instance...
singing  at  the  cafeteria's  steps...
during  lunch time...
... a  time  where  the  entire  UH...
passes  through  there...)

--- --- ---

my  father  had  just  passed  away  a  few  months  before  that
"serenate"  phase...

but...  during  the  previous  three  years...

probably  it  was  because  of  him...
that  I  was  trying  to  do  my  best...  at  the  math  department...

NOT  because  I  wanted  to  show  him...
how  capable  I  could  be  in  math...

BUT  because...  a  completely  different  phenomenon  was...
probably...  happening:...

as  I  worked  hard...
trying  to  prove  all  the  details...
of  the  many  abstract  and  complicated  theorems...

I  was  also  trying  to...  ( metaphorically )...  prove  to  my  father...
that  my  arguments  were  right...
( as opposed  to  his  arguments )

so...  actually...  what  was...  probably  happening...  was  that...
I  was  doing  math  ( proving  theorems )...
in  order  to  practice  the  hability  to  discuss  with  him...

as  we  can  see...
my  problem  was  ( always )  with  my  father...
( never  with  my  mother )...

so... on  those  days...
there  I  was...
singing  on  the  cafeteria  stairs...

--- --- ---

I  was  being  able  to  do  that...
only  because  the  walls  of  the  dam...
which  were  holding  the  waters...
had  gone...

so...  the  waters  were  able  to  flow...
maybe...  in  a  dis-ordered  way...
maybe... in  an  in-appropriate  time...

but  my  willing  to  do  it...
was  too  strong...

( after  all...
I  was  already...
a...  music  "major"...

...minor...(?)


probably...  pre-minor...)

=== === ===


... termina  assim...
o  tema  desenvolvido  nessa  cartinha...


até  a  próxima...
tudo-de-bom...


um  grande  abraço...
                                ...luis antonio...


...19... filosofando... part nineteen... ( chega de conversa-fiada )...

...
... pronto !...  chega  de  conversa-fiada...
    ... e  vamos  ao  que  interessa...

esse  papo  introdutório  ( do 1 ao 3  )...
provavelmente...  não  iria  levar  a  nada...

ficou  visível  que  nessa  pequena  sequencia  introdutória...
está  faltando  um  esqueleto...
uma  estrutura  que  possa  servir  como  referência...  e...  diretriz...
para  uma  narrativa  global...

narrativa  global  esta...
que  estava  muito  presente...
na  nossa  querida  sequencia-de-cartas-de-1-a-18...

portanto...  chega  de  conversa-fiada...
...  e...  vamos  ao  que  interessa...

o  público  quer...
ou  melhor...  o  público  exige...
sex...  drugs...  and...  rock-and-roll...

não...  ... não  é  bem  assim...
uma  narrativa  para  ser  coerente...
necessita  ser  baseada  num  fio-condutor...

---   ---   ---

a  sequencia  introdutória  estava  muito  solta...

no  início...  interagiu  um  pouquinho  com  o  sartre...

...depois...  com  a  "descoberta"  de  que  não  havia  outra  opção...
a  não  ser...  retomar  o  projeto-original...  de  um  rascunho-auto-biográfico...

e...  finalmente...  uma  viagem...  concreta-burocrática...
no  seio  da  university-of-hawaii-at-manoa...

muita  salada...  des-coordenada...
que...  obviamente...  não  iria  levar  a  lugar  nenhum...

...  carecia  realmente...
do  nosso  querido  fio-condutor...

portanto...  vamos  recolocá-lo...  de  volta...
na  nossa  espinha-dorsal...

vamos  lá...?

... Capítulo 19...  ou  melhor...  filosofando...  part  nineteen...

---   ---   ---

... há  muito  tempo  atrás...
quando  eu  tinha  uns  13...  ou  14  anos-de-idade...
( bem  na  época  do  final  do  ciclo-de-cartas-de-1-a-18...)

eu...  em  casa...  no  meu  quarto...
já  morando  na  rua  jota-carlos...
deitado  na  cama...
sonhei  acordado...
tive  um  espécie  de  "insight"...

me  sentia  meio  preso-psicologicamente...
sentia  que  a  sociedade  me  oprimia-psicologicamente...

sentia  que  eu  tinha  um  certo  medo...
das  pessoas...

sentia  que  a  única  maneira  de  eu  me  libertar...
de  toda  essa  angústia...

era  ter-a-coragem  de  "espremer-o-pus"...
ou  seja...
abrir-o-jogo  para  todos...
abrir-o-jogo  para  o  público...

como  se  estivesse  espremendo  meu  próprio  pus...
chegar  na  rua...
lá  no  clube-de-esquina  da  lagoa...
lá  na  turma  do  rocha-pinto...
( onde  eu  me  sentia  à  vontade )...

e...  "espremer-o-pus"...
ou  seja...  contar  tudo  em  público...

... contar  os  ínfimos  detalhes...
de  tudo...  dos  pensamentos  mais  profundos...
mais  íntimos...

... contar  na  rua...
... contar  para  o  público...

seria  a  grande  psico-terapia-libertadora...

( simples !...)
porém...  seria  necessário...  muita  coragem...

uma  coragem  diretamente  proporcional...
à  libertação...

a...  "libertação"...  e  o...  "abrir-me  em  público"...
seriam  sinônimos...

tais  pensamentos  navegavam  na  minha  mente...
deitado  na  cama...
no  meu  quarto...  na  rua  jota-carlos...

---   ---   ---

nessa  época...
nesse  mesmo  quarto...
a  música  que  ouvíamos  era  tocada  por  discos...
... aqueles  que  rodavam  na  vitrola...

coisas  de  antigamente...

naquela  época  não  existia   i-pod...
não  existia  computador...

a  música  que  escutávamos  era  reproduzida...
pela  agulha  sob  a  qual  deslizavam...
os  finíssimos  sulcos-do-disco...  que  giravam  na  vitrola...
em  forma  de  uma  espiral...  quase  infinita...
...convergindo... lentamente...  rumo  ao   centro-do-disco...

a  vitrola  que  eu  tinha...  era  pequenininha...
daquelas  que  podiam  funcionar  tanto  na  pilha...
... como  na  eletricidade...

uma  vitrolinha  portátil...  vermelha...

resolví  colocar  o  sargent-peppers-lonely-heart-club-band...
dos  beatles...

nesse  álbum...  existia  uma  faixa...  ( track )...
que  eu  gostava-de-montão...

era  o...     lovely-rita-rita-maid...

eu  gostava  dessa  música...
por  causa  da  letra  que  conta  a  estória...
de  uma  fiscal-de-estacionamento......

... a  rita-maid...  ou  seja...  a  empregada-rita...
que  trabalhava  com  os  "parking-meters"...
e  se  vestia  com  um  uniforme...
que  fazia  com  que  ela  se  parecesse...
como  uma  espécie  de...  " military  man "...

---   ---   ---

eu  achava  interessante  a  parte  da  letra...
onde  dizia...

"may  I  inquire  discreetly...
 when  are  you  free  to  take  some  tea  with  me...?..."

em  resumo...

eu  achava  a  letra  uma  graça...
muito  bem  bolada...

só  os  beatles  mesmo...

---   ---   ---

mas...  o  que  eu  mais  "curtia"  nessa  música...
era  o  solo-de-piano  que   um  deles  tocava...
logo  depois  que  eles  diziam...  ritá...
(  com  um  acento  fortíssimo  no  "tá"...)

...vinha  um  solo-de-piano...
que  eu  achava...  (  e  ainda  acho...)
o  máximo...

---   ---   ---

logo  depois...  encontrando  por  acaso...
minha  mãe...  no  corredor...
falei:...

( eu )...    " gostaria  tanto  de  saber  tocar  piano "...

( ela ):...   " conheço  um  professor-de-piano  muito  bom...
                  só  que  ele  dá  aula  para  concertistas...
                  ... música  clássica..."

( eu ):...    " música  clássica...?..."

( ela ):...   " é...  música  clássica...  para  concertista...
                  se  voce  quiser...  eu  dou  um  telefonema  para  ele...
                   digo  que  você  quer  aprender...

( eu ):...    "...  tudo  bem... "

---   ---   ---

esse  pequeno  diálogo  com  minha  mãe...
me  fez  pensar  um  pouco...

" pôxa...  um  professor  de  música  clássica...
   ...  interessante..."

fiquei  curioso...

---   ---   ---

meu  pai  tinha  uma  meia-dúzia  de  "long-plays"  de  música-clásica...
que  ele  havia  comprado  em  boston...
na  época  em  que  estudou  lá...
no  MIT...  massachusetts  institute  of  technology...
durante  o  período  de  tres  anos  em  que  estivemos  lá...
conforme  descrito  na  coleção  das  18  cartas  do  blog  anterior...

aquela  meia-dúzia  de  long-plays...
estava  disponível  para  quem  quisesse  escutá-los...
guardadinha  dentro  do  móvel-vitrola  da  sala...

só  que  ninguém  escutava  nada...
estava  lá...  bonitinha...  organizada...
mas...  algo  sem  grandes  utilidades...

simplesmente  ninguém  se  interessava...

---   ---   ---

bem  antes  de  eu  ter  o  diálogo  com  minha  mãe...
( acima  descrito )...  sobre  a  possibilidade  de  estudar  piano...

...  bem  antes  disso...
eu  andava  muito  com  um  grande  amigo  meu...
do  colégio  militar....
o...  richard...

e...  por  frequentar  muito  sua  casa...
recebí  dele...  e  de  sua  mãe...
uma  influencia  muito  boa...
...muito  positiva...
em  relação  à  filosofia-ética...

...em  relação  à  filosoffia  do gandhi...
do  buddha...  dos  grandes  filósofos...

yoga...  meditação...  pranayama...
alimentação-integral...  etc...  etc...

tudo  isso  que  está  bem  na  moda...  hoje-em-dia...

---   ---   ---

só  que  naquela  época...
tais  assuntos...  eram  pouco  difundidos...
pouca  gente  se  "ligava'  muito  nesses  assuntos...
...  digamos...  "exotéricos"...

mas...  felizmente...  graças  ao  richard...
e...  à  sua  mãe...
fui  introduzido  nesse  mundo...
...no  mundo  da  yoga...  ( física  e  espiritual )...

conhecimento  esse...  que  me  ajudou  muito...
(  e  ainda  ajuda )...
a  lidar  com  as  adversidades...
que  estão...  ocasionalmente  surgindo...
na  vida  de  todos  nós...

---   ---   ---

mas  por  que  é  que  o  richard...
entrou  assim...  de repente...  no  papo...?

justamente...
pelo  fato  de  ele  ter  me  introduzido...
no  mundo-maravilhoso  da  yoga-espiritual...

nós...  constantemente...  nessa  época...
costumávamos  ir  para  a  praia..
para  um  parque...
enfim...  para  um  lugar  onde  houvesse...
um  pouco  de  natureza...

e...  costumávamos  fazer  yoga...
...  meditação...

tentando  silenciar  a  mente...
dos  barulhos...
dos  ruídos...  desse  mundo...  "profano"...

---   ---   ---

e...  nessa  de  meditar...
surgiu...  também...  o  interesse  pelos  discos...
do  tipo...  música-clássica-para-meditação...

...já  que  poderíamos  usá-los  como  fundo-musical...
para  nossos  exercícios  de  pranayama...

---   ---   ---

eu... em  casa  na  sala  da  jota-carlos...
ao  "descobrir"  a  meia-duziazinha  de  long-plays  clássicos...
que  meu  pai  havia  comprado  numa  liquidação  na  época  do  MIT...

e...  influenciado  pela  paz-de-espírito...
adquirida  pelas...  "meditações"...

...naturalmente...
ao  ver  tal  coleção...  meio  abandonada...
no  interior  do  móvel  toca-discos  da  sala...

resolví...  um  dia...  colocar  um  dos  discos...
para  ver  do  que  se  tratava...

---   ---   ---

a  coleção...  conforme  foi  dito...
não  era  muito  vasta...

tinha  um  long-play  do  chopin...
outro  do  tchaikovsky...
outro  do  brahms...
outro  da  quinta-sinfonia  de  beethoven...
um  de  vivalvi...
um  de  schumann

e...  um  que  me  chamou  à  atenção  pelo  título:
..."classical  music  for  people  who  hate  classical  music"...

...que  trazia  pequenas  amostras  das  grandes  aberturas  de  ópera...
ou...  alguns  trechos  de  grandes  sinfonias...
enfim...
oferecia  alguns  exemplos  das  peças  mais  conhecidas...
mais...  "manjadas"...  pelo  público  não  muito  especializado...
no  repertório  clássico...

---   ---   ---

e  eu...  ao  ver  tal  coleção...

naturalmente...  fui  experimentando......
devagarinho...  cada  disco  daqueles...

não  todos  de  uma  só  vez...

nem  pensar...

pois...  quem  nunca  ouviu  uma  música  clássica...
não  consegue  saboreá-la  logo  assim...
de  cara...  de  supetão...

...logo  assim...  na  primeira  tragada...
   ...  no  primeiro  gole...

---   ---   ---

a  coisa  se  dá  de  uma  forma  lenta...  gradativa...

ao  colocar  o  disco  pela  primeira  vez...
a  música  não  me  dizia  nada...
...  não  me  sensibilizava...
era  algo  que  estava  tocando  na  vitrola...
...  algo  meio  sem  sentido...

mas...  eu  era  insistente...

depois  da  primeira  rodada...
que  era  um  escutar...  sem-escutar...

assim  que  o  disco  chegava  ao  final...
eu  dava  um   "replay"...
ou  seja...  re-posicionava  a  agulha   para  o  início  do  disco...

tentava  escutar  umas  duas  vezes  em  seguida...
e  depois...  ia  fazer  algo  diferente...

outras  horas...  outros  dias...
insistia  de novo...

esse  processo  de  educar  o  ouvido  rumo  à  música-clássica...
não  exige  muito  tempo...  ...  não...
pois...  a  partir  da  terceira  rodada...
já  é  possível  começar  a  "entender"  a  música...

já  é  possível  começar  a  sentir...  a  melodia...
a  mensagem  musical...

a  linguagem...

o  que  o  compositor  estava  querendo  dizer...

a  música...  em  si...

---   ---   ---

a  partir  desse  "mergulho"  inicial...
percebí  a  riqueza  desse  tipo  de  música...

adorava  colocar  o  concerto-número-1-para-piano-e-orquestra...
do  tchaikovsky...

gostava  da  hora  em  que  o  piano  entrava...

era  uma  peça  longa...
com  recursos  musicais  riquíssimos...
que  me  conduziam  a  uma  viagem  imaginária...
bastante  diferente  da  que  era  experimentada...
ao  escutar  o  solo  alegre...  dos  beatles...
ao  tocarem...  lovely-rita-rita-maid...

---   ---   ---

por  isso...
quando  minha  mãe  me  falou...

...que  o  professor-de-piano...
era  um  professor  de  música-clássica...
para  concertistas...

fiquei  apenas  escutando  o  que  ela  estava  me  dizendo...
( quando  me  perguntou  se  eu  estava  interessado  nas  aulas...)

e...  quando  eu  disse...  "tudo  bem"...
não  pensei  muito  mais...  sobre  o  assunto...

poucos  dias  depois...
minha  mãe  chega  pra  mim...
...e  diz:
           ..."falei  com  o  professor...
               combinamos  para  o  dia  tal...  hora  tal..."...

esperei  o  dia  agendado...  chegar...
tranquilo...  sem  pensar  muito  no  assunto...

porém...  com  uma  "pontinha-de-curiosidade"...
devido  ao  fato  de...  minha  mãe  ter  agendado  uma  primeira-aula...
com...  segundo  ela...
... " um  professor  muito  bom...
      ...um  professor  de  música-clássica..."

fiquei...  tranquilo...
aguardando  o  dia  tal...  da  hora  tal...
para  pegar  o...
                          largo-da-glória_leblon...
                   o.... são-salvador_leblon...
                   o...  urca_leblon...
         ou...   o...  cosme-velho_  leblon...

...que  me  levariam  à  primeira-aula...
   ...  com  o  professor-de-piano...

---   ---   ---

ao  pegar  o  ônibus...
com  seu  endereço  anotado  numa  folha-de-papel...

não  me  passou  pela  cabeça...
que...  a  partir  dessa  primeira  aula......
minha  visão-de-mundo...
iria  se  transformar...
iria  se  enriquecer...

ao  receber  dele...  aulas...
que  não  falavam  só  de  música...

... mas  da  vida...  em  geral...

o  professor-de-piano...
teve  uma  enorme  influência  em  minha  vida...

ao  ponto  de  eu  o  considerar...
hoje-em-dia...
como  meu...  segundo  pai...

---   ---   ---

paro  por  aqui...
desejando...  a  você...    tudo-de-bom...

um  grande  abraço...
                              ...luis antonio...


...20... filosofando... part twenty...

... todo  mundo  de  uma  forma  ou  de  outra...
já  ouviu  falar  que...  normalmente...
numa  turma-de-escola...  onde  existem  meninas  e  meninos...
de  14  anos-de-idade...

... a  tendência  é  a  de  que...  em  geral...
as  meninas  tenham  uma  maturidade  muito  mais  desenvolvida...
do  que  seus  colegas  do  sexo  masculino...
embora  tenham  todos...  a  mesma  idade...

por  isso...  a  tendência  é  de  que  elas  procurem  se  relacionar...
seja  na  esfera  da  amizade...  ou  na  esfera  romântica...
com  rapazes  um  pouco  mais  velhos...
... tipo...  digamos...  uns  18  anos...

eu...  com  18  anos...  morava  na  rua  jota-carlos...
em  companhia  do  meu  pai...  minha  mãe...
minha  irmã  mais  velha  ana emília...
minha  irmã  mais  nova  clarice...
e  meu  irmão  caçula  tuípe...

nessa  época  eu  tinha  passado  o  ano  anterior...
fazendo  vestibular  no  curso  vetor...
(... um  daqueles  cursinhos  típicos  em  copacabana...)

... um  curso  intensivo...
... nunca  aprendi  tanta  matemática  e  física...
concentradamente...  em  um  só  ano...

o  estudo  era  intenso...
mas  eu  gostava...
( sempre  gostei  de  matemática...)

à  noite...  quando  fazia  um  céu  estrelado...
colocava  uma  esteira  na  cobertura...
e  dormia...  olhando  as  estrelas...

antes  de  imergir  no  sono  profundo...
ainda  ficava  visualizando  linhas  retas  que  as  uniam...
formando  bissetrizes...  mediatrizes...
formas  geométricas  que  as  aulas-de-geometria...
junto  com  seus  exercícios  euclidianos...
tinham  invadido  minha  cabeça...
durante  o  ambiente  "intensivão"...  do  curso  vetor...

meus  olhos...  merecidamente...  descansavam...
repousando  o  olhar  nas  estrelas...
embora  as  demonstrações  dos  teoremas-da-geometria-plana...
insistissem  em  interferir  na  contemplação  de  tamanha  beleza  natural:
... o  céu  estrelado...

---   ---   ---

o  registro  oficial  para  o  exame  de  vestibular...
permitia  que  o  candidato  colocasse  sua  preferência...
em  termos  de  prioridade...

por  exemplo...  poderíamos  colocar:

fundão  ( UFRJ ).............  como  primeira  prioridade...
PUC.......................................... segunda  prioridade...
niterói  ( UFF )..........................  terceira  prioridade...
gama filho.................................   quarta  prioridade...   etc...

e...  além  disso  poderíamos  optar  pelo  semestre...
( iniciando  a  faculdade  no  primeiro...  ou  segundo  semestre )...

---   ---   ---

como  eu  estava  cansadíssimo...
exausto...  do  rítmo  intensivissíssimo...
ao  qual  havia  me  submetido...
no  curso  preparatório...

coloquei  em  primeira  opção...
começar  a  faculdade...
na  PUC-2

ou  seja...  na  PUC- do-segundo-semestre...

com  isso...  teria  tempo  suficiente...
para  me  recuperar  da  "maratona"  que  foi...
o  curso  vetor...

ficaria  um  semestre  inteiro...
sem  fazer  nada...
apenas  descansando...

surfando...  etc...

enfim...  tratando  de  re-estabelecer...
o  meu  equilíbrio-normal...
meu  equilíbrio-natural...

e  foi  exatamente  isso  que  aconteceu...

passei  em  primeiro  lugar  para  a  PUC - segundo-semestre...

---   ---   ---

esse  papo  de  ter  passado  em  "primeiro-lugar"  para  a  PUC...
é  meio  relativo...

pois  se  eu  tivesse  colocado  como  primeira  opção...  PUC - primeiro-semestre...
jamais  iria  obter  tal  classificação...

meu  colega  do  curso  vetor  que  tirou  o  primeiro-lugar  na  PUC - primeiro-semestre...
obteve  uma  contagem-de-pontos  em  torno  dos  39 000  pontos...

...  enquanto  que  eu  obtive  algo  em  torno  dos  35 000  pontos...

conclusão...  esse  papo  de  "primeiro-lugar"  é  meio  relativo...

---   ---   ---

mas...  nem  por  isso...  deixou  de  ser  uma  "curtição"...

o  curso-vetor  colocou  sua  propaganda  nos  jornais...
em  letras  garrafais...

fulaninho.........  primeiro-lugar  na  UFF...
sicraninho.......  segundo-lugar  na  gama-filho...

e...  por  aí  a  fora...

obviamente  comprei  uma  meia-dúzia  de  duas  ou  três  cópias  do  jornal...
para  guardar  na  minha  pasta  de  "curriculum-vitae"...

... medida-preventiva  essa...  que  me  foi  muito  útil...
    ... poucos  meses  depois...

---   ---   ---

meu  professor-de-piano  falava:
...  " muito  bom...  luis...  parabéns...
você  é  um  cara  espetacular...  inteligente...  estudioso...
esse resultado  que  você  obteve  é  consequência  de  você...
não  foi  sorte... não...    ...não  foi  nada  disso...
você...  é  que  é  um  cara  sensacional...
que  construiu...  no  dia-a-dia...  esse  resultado "...

---   ---   ---

eu...  escutando  todos  aqueles  elogios...
meio  tenso...  sem  saber  bem...  o  que  dizer...  dizia:

... " é  acho  que  eu  não  tenho  muito  mérito...  não...
o  que  eu  fiz...
foi  uma  consequência  natural  daquilo  que  meus  pais  me  deram...
eles  me  deram  condições  de  eu...  metodicamente...
ir  me  preparando...
desde  há  muito  tempo...     talvez...
desde  a  época  do  cursinho-de-admissão  ao  ginasial...

(  o  professor )...  " tá  vendo...?...  espetacular...  muito  bom...
                               concordo...  você...  não  está  se  "gabando"...
                               de  ter  tirado  o  primeiro-lugar...

                              você...  humildemente  percebe...  que  recebeu  as
                              condições  necessárias  para  alcançar  esse  resultado...
                              genial...  luis...  gostei  da  sua  observação "...

---   ---   ---

e  eu...  louco  para  que  a  aula  pudesse  se  direcionar...
para  a  prática  do  piano  em  si...

ao  invés  de  dar  um  "toque'  direto  no  professor...
para  que  investíssemos  mais  tempo...  na  prática-do-piano...

...eu...  timidamente...  esperava  que  ele  se  "tocasse"...
e  decidisse  por  si-próprio...
a  pedir  que  eu  tocasse  o  "pictures  at  an  exhibition"  do  mussorgsky...
para  que  ele  pudesse  então...
fazer  seus  preciosos  comentários...
suas  preciosas  observações...
suas  preciosas...  críticas-construtivas:

..." olha...  nesse  trecho  aqui...
eu  faria  um  super-pianíssimo...
cantaria  um  pouco  com  a  mão-direita...
para  diferenciar  dessa  outra  melodia...

... "  e  ali...  eu  faria  uma  pausa  bem  repentina...
para  dar  o  contraste  que  a  tonalidade...
desse  acorde-dissonante...  está  pedindo..."...  

aulas  preciosas...

minha  mãe  tinha  razão...
" o  professor  é  muito  bom "...

e  eu...  ao  receber  todas  aquelas  aulas...
de  altíssimo  nível...
percebia...  que  existiam  mundos...
bem  diferentes...

mundos  onde  existia  um  estudo-da-sensibilidade...
que  eu  jamais  iria  imaginar...

pois  eu  vinha  de  uma  família...
onde  a  ênfase  acadêmica  era  voltada  para  as  ciências-exatas...

não  havia  um  conhecimento  mais  profundo...
nas  outras  áreas  do  conhecimento...

e...  lá...  recebendo  os  ensinamentos  do  professor...
tive  a  oportunidade  de  perceber  que...
existia  todo  um  mundo  refinadíssimo...
que  era  o  mundo  das  artes-finas...
como  o  da  leitura  musical...
e  do  estudo  da  música  erudita...

um  mundo  ainda...  bem  desconhecido...  para  mim...

mas  que...  já  conseguia  pré-sentir...  a  sua  existência...

---   ---   ---

conforme  havíamos  mencionado  no  "part-19"...
o  professor  não  ensinava  apenas  música...

ele  era  para  mim...  como  um  segundo-pai...

..."... luis...  o  que  você  acha  de  trabalhar  nesse  semestre...
      ( já  que  você  optou  por  começar  a  PUC  só  em  agosto...?...

..."... ah...  vale-a-pena...  vai  te  dar  experiência...
        vai  te  colocar  diante  do  mundo...
        você  se  sentirá  mais  em  sintonia...
        com  a  própria  sociedade  em  que  vivemos...

..."... você  vai  se  desenvolver  ainda  mais...  rapaz..."...

---   ---   ---

e... tudo  isso  era  falado  com  a  voz  doce...
a  voz  melódica...

classificação  feita  por  ele  próprio...
quando  enfatizava  a  importância  de  todos  nós...
falarmos  com  uma  voz...  doce...

e... a  voz  doce  se  inseria  perfeitamente...
em  toda  a  teoria  musical...
da  expressividade  melódica...  etc...

---   ---   ---

dito-e-feito...

a  maioria  dos  conselhos  que  vinham  do  professor-de-piano...
eu...  tranquilamente...  assinava-em-baixo...

em  casa...  comecei  a  dar  uma  lida  nos  classificados...
procurando  emprego...

... " precisa-se  de  vendedores  de  livros "...

fui  lá...

preenchi  a  ficha...
mandaram  voltar  outro  dia...

---   ---   ---

na  semana  seguinte...
aula  de  piano...

comentei  que  havia  tentado  um  emprego...
de  vendedor-de-livros...

então...  ele  ponderou:

... "... você... luiz...  seria  um  ótimo  professor...
      quando  uma  vez  eu  te  perguntei  por  que  é  que...
       um  número-negativo  multiplicado  por  um  outro  número-negativo...
       dá  um  número  positivo...

     "... e...  quando  você  disse  que  era  como  se  fosse  o  avesso-do-avesso...

     "... percebi  que  você  tem  uma  ótima  vocação  para  professor...

     "... por que  não  tenta  arrumar  um  emprego  como  professor...?

     "... você  poderia  começar  sendo...  professor-particular..."...

---   ---   ---

a  partir  daí...  comecei  a  ir  nas  escolas...
para  entregar  meu  currículo...  telefone...
oferecendo  meus  serviços  de...
professor-particular-de-matemática...

choveu  alunos...
passava  o  dia  dando  aula...

cobrava  barato...
tipo...  20  reais-a-hora...  se  fosse  nos  dias  de  hoje...

eu  ia  na  casa  dos  alunos...
em  botafogo...  humaitá...  copacabana...

o  pessoal  gostava  das  aulas...

---   ---   ---

influenciado  pelo  professor-de-piano...
eu  passava  do  horário...

ao  invés  de  dar  a  aula  de  1-hora-exata...
dava  uma  esticadinha  para  1-hora-e-meia...
... às  vezes...  2-horas...

pois  não  queríamos  dar  um  tom  às  aulas...
que  lembrasse  uma  concepção  do  mundo...
... exageradamente...  capitalista...
ao  ponto  de  "cronometrarmos"...
cada  minuto  de  aula...

---  ---   ---

fico  por  aqui...
pois  o  cronômetro...
avisa  que...
                 ... passou  da  hora...

até  já...
tudo-de-bom...

um  grande  abraço...
                                ...luis antonio...


...21... filosofando... part twenty-one...

Com  as  boas  influências  vindas  da  filosofia  gandhiana...
que  havia  aprendido  com   o  richard...
(...  mencionado  no  "part-19"...)...

... adicionadas  aos  novos-horizontes...
que  lentamente  iam  se  revelando...
graças  ao  professor-de-piano......

... eu  sentia  que  as  condições  eram  favoráveis...
que  as  coisas  estavam  acontecendo...
meio  sem  grandes  planejamentos...

que  a  vida  estava  me  conduzindo...
numa  direção  onde...
eu...  nem  sempre  tinha...  o  controle  do  leme...

mas  que...  por  sorte...
os  ventos  estavam  me  levando...
para  lugares  bons...
para  lugares...  saudáveis...

---   ---   ---

ao  visitar  cada  apartamento  dos  inúmeros  alunos-particulares...
que  me  chamavam  para  ajudá-los  em  matemática...
... percebia  a  diversidade  de  universos  existentes...
em  cada  um  daqueles  espaços...

mas...  nada  disso  era  importante...

o  fundamental  naquelas  visitas...
era  a  interação  que  eu  tinha...  com  cada  aluno...
tão  diferentes  um  dos  outros...
cada  um  com  sua  particularidade...
com  sua  personalidade...

e...  todos  me  recebiam  bem...
normalmente  a  mãe...  me  oferecia  um  copo  d'água...

a  aula  acontecia  usando  folhas-de-rascunho...
cada  um  com  sua  deficiência...
cada  aluno  com  sua  beleza-intrinsica...
a  beleza  de  ser...  um  ser-humano...
um  ser...  querendo  aprender...
querendo  se  desenvolver...
pedindo  ajuda  a  um  outro...  ser-humano...

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profissão  belíssima...
a  de  um  professor-particular...

o  professor-de-piano  tinha  razão...

a  decisão  de  trabalhar  dando  aulas...
foi...  realmente...  bem  melhor  do  que...
ter  me  lançado  ao  primeiro  chamado  do  caderno-de-classificados...
ou  seja... me  candidatar  à  vaga  de...  vendedor-de-livros...

---   ---   ---

...  para  que  as  aulas  pudessem  acontecer...
era  necessário  uma  certa  preparação  preliminar...
em  termos  de  uma  certa  infra-estrutura  de  "marketing"...

"marketing"  seria  provavelmente...
uma  palavra  um  tanto  sofisticada...
para  traduzir  algo  bem  mais  simples...

o  que  era  feito  era  simplesmente  uma  divulgação  bem  artesanal...
que  consistia  na  colocação  de  um  super-mini-cartaz...
dando  meu  nome  e  telefone...

o  anúncio  era  colocado  nos  quadros-de-avisos  das  escolas...
ou  então  nos  cadernos-de-telefones-úteis...
lá...  da  secretaria  da  escola...

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tudo  isso  era  feito...
percorrendo  meia-dúzia  de  escolas  da  área...

o  colégio  anglo-americano...  na  praia de botafogo...
fazia  parte  desse  itinerário  de  "marketing"...

ao  chegar  lá...
me  pediram  para  falar  com  um  dos   diretores...

ele  me  perguntou:

         " você  tem  experiência  em  dar  aulas...?..."...

expliquei  que  sim...
já  estava  dando  aulas  já...  há  algum  tempo...
...  que  tinha  tirado  primeiro-lugar  no  vestibular...

ele  me  pergunta:

         " você  tem  provas  disso  que  você  está  dizendo...?..."...

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abro  aquele  tipo  de  pastinha-de-cartolina-retangular-cor-de-rosa...
com  aqueles  dois  elastiquinhos-pretos  nas  duas  pontas...

...  retiro  o  caderno  do  jornal-dos-sports...
cuja  última-página  exibia  a  propaganda  do  curso-vetor...
divulgando  o  nome  dos  alunos  que  obtiveram...
o  primeiro-lugar...  o  segundo-lugar...  etc...
nas  diversas  faculdades...  

e...  ao  deslocar  o  jornal  do  meu  colo... para  sua  escrivaninha...
percebo  que  ele  nem  se  dá  ao  trabalho  de  verificar...
se  meu  nome  estava  lá...  ou  não...

vai  logo  decidindo:

         " vou  lhe  dar  as  turmas  de  dependência "...
( hoje...  seriam  as  turmas  de  recuperação )...

---   ---   ---

ele  me  passou  o  horário  das  aulas...
falou  que  poderia  começar  na  segunda  feira...

falou  também...  para  eu  tirar  a  carteira-de-trabalho...
e  que  a  entregasse  ao  departamento-pessoal...

nos  despedimos...

e...  em  casa...  comecei  a  preparar  as  aulas...
para  tamanha  tarefa...
um  tarefa  de  extrema  responsabilidade...
ou  seja...  dar  aulas  num  colégio...
numa  turma...

... mesmo  sabendo  que  era  apenas...
    ... uma  mini-turma  de  dependência...

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em  casa...  ao  fazer  o  planejamento-das-aulas...
eu  tinha  como  referencial...
o  nível-de-estudo  que  estava  acostumado  a  lidar...
no  curso-vetor...

baseando-me  neste  referencial...
caprichei  nos  rascunhos  que  seriam  a  preparação-das-aulas...

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segunda-feira...
chego  cedo  no  meu  novo  trabalho...

pergunto  onde  é  a  sala-da-dependência...

a  secretária  me  leva  lá...

espero  o  relógio  marcar  o  início  do  primeiro-tempo...
naquela  manhã...

espero  mais  um  pouco...

ninguém  aparece...

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depois...  me  explicam  que  é  assim  mesmo...
as  turmas  de  dependência  têm  poucos  alunos...

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no  segundo-tempo  aparecem  uns  dois  alunos...

dou  aquela  aula-caprichada...

tranquilo...
não  foi  tão  mal  assim...

penso  comigo  mesmo...  ( já  no  ônibus  de  volta...)

"  até  que  não  foi  tão  difícil  assim...
   nem  era  preciso  me  preocupar  tanto...  em  preparar  as  aulas...
   pois...  o  nível  é  bem  tranquilo...  bem  básico..."

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mas...  nem  por  isso...  deixava  de  caprichar  nas  aulas...

tinha  muito  o  que  falar...
muito  o  que  explicar...

havia  todo  um  mundo  de  teoremas  interessantes...
para  apresentar  aos  alunos...

demonstrações  sobre  os  teoremas  de  trigonometria...
...  da  geometria-analítica...

eu  gostava  das  demonstrações...
porque...  elas  apresentavam  uma  linha-de-raciocínio...
que  conduziam  à  tese-principal...

e...  com  isso...  a  vantagem  era  dupla...

primeiro...  porque  o  aluno  não  precisava  decorar  a  fórmula...
( que  era  a  tese  da  demonstração )...

segundo...  porque...  ao  observar  a  demonstração...
tínhamos  a  oportunidade  de  sentir...  em  detalhes...
o  mecanismo  da  argumentação  matemática...
que  no  fundo...  era  uma  sequencia  lógica  de  passos...
e...  com  isso....  estaríamos  exercitando  a  capacidade  de  pensar...

---   ---   ---

empolgado  com  a  filosofia-das-demonstrações...
acabava  deixando  os  poucos  alunos  das  turmas-de-dependência...
um  pouco  perplexos...  um  pouco  curiosos...
em  ver  um  professor  tão  diferente...

... com  um  cabelo  longo...
encaracolado...
com  chumaços  volumosos...
descansando  sobre  os  ombros...

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afinal...  era  o  ano  de  1972...

o  cabelo  enorme...  nos  ombros...
já  era  algo  conhecido...

não  era  uma  novidade  tão  grande  assim...
era  um  estilo  que  muitos  de  nós  já  havíamos  adotado...

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ainda  era  algo  exótico...
mas...  nem  tanto...

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e...  ao  ver  um  professor  com  18  anos-de-idade...
com  o  cabelo  nos  ombros...
empolgado  com  as  demonstraçõeszinhas  dos  teoreminhas  da  trigonometria...
e  da  geometria-analítica...

...  tudo  parecia  uma  espécie   de  "folclore"  interessante  e  bem-vindo...
ao  colégio  anglo-americano...

...  que...  sem  dores-de-consciência...
acolhia  os  alunos  que  não  conseguiam  passar  no  andrews...
a  poucos  metros  de  distância...
no  quarteirão  vizinho...

em  resumo...

o  andrews  era  o  colégio  dos  estudiosos...
    ...  filhos  da  alta-society...

... o  anglo-americano...  era  o  colégio  da  vagabundagem...
        ( que  também  pertencia  ...  à  mesma  "society"...)

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a  diferença  é  que  os  primeiros...
tiveram  a  sorte  de  ter  uma...  certa  base-acadêmica...

...  enquanto  que  os  segundos...
por  um  motivo...  ou  outro...
não  tiveram  a  mesma  sorte...

eu  apenas...  observava  o  fenômeno...
sem  nenhum  julgamento...

tentava  ensinar  no  anglo...
como  se  estivesse  numa  escola  qualquer...

para  mim...  não  existia  diferença...
em  termos  de  consideração  para  com  o  aluno...

o  desenvolvimento  individual...
o  progresso  em  relação  a  si  mesmo...
era  o  que  interessava...

mas...  o  contraste  entre  as  duas  escolas  era  visível...
embora  ambas...  lidassem  com  o  mesmo  tipo-de-classe-social...

paro  por  aqui...
mandando  meu  abraço  para  os  dois...

para  a  turma  dos  estudiosos...
e...  para  a  turma  da  vagabundagem...

pois  ambos  visavam...
um  objetivo  comum:
                                ...  a  felicidade...

um  grande  abraço...
                                ...luis antonio...