Com as boas influências vindas da filosofia gandhiana...
que havia aprendido com o richard...
(... mencionado no "part-19"...)...
... adicionadas aos novos-horizontes...
que lentamente iam se revelando...
graças ao professor-de-piano......
... eu sentia que as condições eram favoráveis...
que as coisas estavam acontecendo...
meio sem grandes planejamentos...
que a vida estava me conduzindo...
numa direção onde...
eu... nem sempre tinha... o controle do leme...
mas que... por sorte...
os ventos estavam me levando...
para lugares bons...
para lugares... saudáveis...
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ao visitar cada apartamento dos inúmeros alunos-particulares...
que me chamavam para ajudá-los em matemática...
... percebia a diversidade de universos existentes...
em cada um daqueles espaços...
mas... nada disso era importante...
o fundamental naquelas visitas...
era a interação que eu tinha... com cada aluno...
tão diferentes um dos outros...
cada um com sua particularidade...
com sua personalidade...
e... todos me recebiam bem...
normalmente a mãe... me oferecia um copo d'água...
a aula acontecia usando folhas-de-rascunho...
cada um com sua deficiência...
cada aluno com sua beleza-intrinsica...
a beleza de ser... um ser-humano...
um ser... querendo aprender...
querendo se desenvolver...
pedindo ajuda a um outro... ser-humano...
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profissão belíssima...
a de um professor-particular...
o professor-de-piano tinha razão...
a decisão de trabalhar dando aulas...
foi... realmente... bem melhor do que...
ter me lançado ao primeiro chamado do caderno-de-classificados...
ou seja... me candidatar à vaga de... vendedor-de-livros...
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... para que as aulas pudessem acontecer...
era necessário uma certa preparação preliminar...
em termos de uma certa infra-estrutura de "marketing"...
"marketing" seria provavelmente...
uma palavra um tanto sofisticada...
para traduzir algo bem mais simples...
o que era feito era simplesmente uma divulgação bem artesanal...
que consistia na colocação de um super-mini-cartaz...
dando meu nome e telefone...
o anúncio era colocado nos quadros-de-avisos das escolas...
ou então nos cadernos-de-telefones-úteis...
lá... da secretaria da escola...
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tudo isso era feito...
percorrendo meia-dúzia de escolas da área...
o colégio anglo-americano... na praia de botafogo...
fazia parte desse itinerário de "marketing"...
ao chegar lá...
me pediram para falar com um dos diretores...
ele me perguntou:
" você tem experiência em dar aulas...?..."...
expliquei que sim...
já estava dando aulas já... há algum tempo...
... que tinha tirado primeiro-lugar no vestibular...
ele me pergunta:
" você tem provas disso que você está dizendo...?..."...
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abro aquele tipo de pastinha-de-cartolina-retangular-cor-de-rosa...
com aqueles dois elastiquinhos-pretos nas duas pontas...
... retiro o caderno do jornal-dos-sports...
cuja última-página exibia a propaganda do curso-vetor...
divulgando o nome dos alunos que obtiveram...
o primeiro-lugar... o segundo-lugar... etc...
nas diversas faculdades...
e... ao deslocar o jornal do meu colo... para sua escrivaninha...
percebo que ele nem se dá ao trabalho de verificar...
se meu nome estava lá... ou não...
vai logo decidindo:
" vou lhe dar as turmas de dependência "...
( hoje... seriam as turmas de recuperação )...
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ele me passou o horário das aulas...
falou que poderia começar na segunda feira...
falou também... para eu tirar a carteira-de-trabalho...
e que a entregasse ao departamento-pessoal...
nos despedimos...
e... em casa... comecei a preparar as aulas...
para tamanha tarefa...
um tarefa de extrema responsabilidade...
ou seja... dar aulas num colégio...
numa turma...
... mesmo sabendo que era apenas...
... uma mini-turma de dependência...
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em casa... ao fazer o planejamento-das-aulas...
eu tinha como referencial...
o nível-de-estudo que estava acostumado a lidar...
no curso-vetor...
baseando-me neste referencial...
caprichei nos rascunhos que seriam a preparação-das-aulas...
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segunda-feira...
chego cedo no meu novo trabalho...
pergunto onde é a sala-da-dependência...
a secretária me leva lá...
espero o relógio marcar o início do primeiro-tempo...
naquela manhã...
espero mais um pouco...
ninguém aparece...
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depois... me explicam que é assim mesmo...
as turmas de dependência têm poucos alunos...
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no segundo-tempo aparecem uns dois alunos...
dou aquela aula-caprichada...
tranquilo...
não foi tão mal assim...
penso comigo mesmo... ( já no ônibus de volta...)
" até que não foi tão difícil assim...
nem era preciso me preocupar tanto... em preparar as aulas...
pois... o nível é bem tranquilo... bem básico..."
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mas... nem por isso... deixava de caprichar nas aulas...
tinha muito o que falar...
muito o que explicar...
havia todo um mundo de teoremas interessantes...
para apresentar aos alunos...
demonstrações sobre os teoremas de trigonometria...
... da geometria-analítica...
eu gostava das demonstrações...
porque... elas apresentavam uma linha-de-raciocínio...
que conduziam à tese-principal...
e... com isso... a vantagem era dupla...
primeiro... porque o aluno não precisava decorar a fórmula...
( que era a tese da demonstração )...
segundo... porque... ao observar a demonstração...
tínhamos a oportunidade de sentir... em detalhes...
o mecanismo da argumentação matemática...
que no fundo... era uma sequencia lógica de passos...
e... com isso.... estaríamos exercitando a capacidade de pensar...
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empolgado com a filosofia-das-demonstrações...
acabava deixando os poucos alunos das turmas-de-dependência...
um pouco perplexos... um pouco curiosos...
em ver um professor tão diferente...
... com um cabelo longo...
encaracolado...
com chumaços volumosos...
descansando sobre os ombros...
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afinal... era o ano de 1972...
o cabelo enorme... nos ombros...
já era algo conhecido...
não era uma novidade tão grande assim...
era um estilo que muitos de nós já havíamos adotado...
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ainda era algo exótico...
mas... nem tanto...
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e... ao ver um professor com 18 anos-de-idade...
com o cabelo nos ombros...
empolgado com as demonstraçõeszinhas dos teoreminhas da trigonometria...
e da geometria-analítica...
... tudo parecia uma espécie de "folclore" interessante e bem-vindo...
ao colégio anglo-americano...
... que... sem dores-de-consciência...
acolhia os alunos que não conseguiam passar no andrews...
a poucos metros de distância...
no quarteirão vizinho...
em resumo...
o andrews era o colégio dos estudiosos...
... filhos da alta-society...
... o anglo-americano... era o colégio da vagabundagem...
( que também pertencia ... à mesma "society"...)
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a diferença é que os primeiros...
tiveram a sorte de ter uma... certa base-acadêmica...
... enquanto que os segundos...
por um motivo... ou outro...
não tiveram a mesma sorte...
eu apenas... observava o fenômeno...
sem nenhum julgamento...
tentava ensinar no anglo...
como se estivesse numa escola qualquer...
para mim... não existia diferença...
em termos de consideração para com o aluno...
o desenvolvimento individual...
o progresso em relação a si mesmo...
era o que interessava...
mas... o contraste entre as duas escolas era visível...
embora ambas... lidassem com o mesmo tipo-de-classe-social...
paro por aqui...
mandando meu abraço para os dois...
para a turma dos estudiosos...
e... para a turma da vagabundagem...
pois ambos visavam...
um objetivo comum:
... a felicidade...
um grande abraço...
...luis antonio...