Não foi a primeira vez na minha vida...
que escutei a palavra... "traição"...
mas... foi com a lenira...
logo durante nossas primeiras saídas após as aulas de ballet...
que esse termo...
me chamou à atenção...
foi a partir desses nossos primeiríssimos papos...
que o termo passou a ter um significado bem intenso...
o termo foi introduzido ao meu vocabulário...
de uma forma macabra...
como se fosse um termo perigoso...
um termo-ameaça...
um termo de um filme-de-terror...
o termo era usado...
em frases do tipo :
..." você jura... luis... que nunca vai me trair..?..."
então...
a partir desse novo elemento no meu vocabulário...
o conceito de "traição" entre um casal...
dava origem também ao conceito de "desconfiança"...
de sentir que a qualquer momento...
poderia haver um "golpe-mortal"...
ou seja...
sua própria "amada"...
poderia lhe "golpear"...
ao se relacionar...
ou "simplesmente" paquerar...
um outro homem... ao mesmo tempo...
atropelando portanto o namoro atual...
ou seja...
nosso namoro...
uma situação de "terror"...
de terror-psicológico...
já planejado de antemão...
( consciente ou inconscientemente...)...
uma ameaça constante no ar...
que estaria consolidando...
a cada minuto que ia passando...
seu domínio sobre mim...
eu... ao aceitar o jogo-perverso...
que consistia em conviver com uma pessoa...
que estava eternamente...
assumindo explicitamente...
que... se eu não cumprisse...
imediatamente...
submissamente...
e... prontamente...
todas as suas "ordens" implícitas...
ela poderia a qualquer momento...
dar um sorriso-zinho para o primeiro que aparecesse...
e... se relacionar com ele...
( mesmo que fosse de uma forma... "relâmpago"...)...
gerando... dessa forma...
o meu ( merecido? ) "castigo"...
caso eu "ousasse"...
não ser seu "escravo"... cem-por-cento escravizado...
uma situação tão patológica...
consequência de uma opção por parte do dominado... (ou seja:.. eu )...
em aceitar tais regras...
regras de um jogo perverso...
elaborado por uma pessoa...
cuja lógica de raciocínio...
achava que não estava fazendo nada-de-mais...
uma lógica...
baseada na premissa...
de que ela pertencia a uma classe...
sem grandes potencialidades financeiras...
e que...
ao namorar o garoto-utopicamente-romântico-e-carente...
de uma classe-social...
um pouquinho mais "privilegiada"...
poderia... ( e... deveria...)...
usar e abusar
de seus dons de sedução...
para...
( em prol de uma "justiça" social...
misturada com uma certa "perversidade"...)...
manter esse jogo-de-dominação-perverso...
onde o principal responsável por sua manutenção...
era... sem dúvida... eu mesmo...
( por aceitar esse jogo...)...
uma aceitação quase que inevitável...
devido ao lastimável estado-de-carência
em que eu me encontrava...
uma carência antiga...
... " milenar " ...
nascida desde os tempos do colégio-militar...
e que se tornava bem viva...
naquele momento de vida...
apesar das inúmeras aventuras sensuais-e-sexuais...
que aconteciam naturalmente...
no ambiente-do-ballet...
... pois a proposta da lenira...
era morar-junto... mesmo...
era casar...
se não fosse formalmente...
pelo menos... informalmente...
o compromisso que ela estava propondo...
( e assumindo na prática...
( já que era ela quem tomava as iniciativas...)...)...
era pra valer...
( já falava em ter filhos... etc...)...
... preenchendo dessa forma...
a minha carência visceral...
( naquele momento...)...
que era ter um projeto-de-vida...
com uma "gatinha" bonitinha...
quatro anos mais nova do que eu...
e... ( razoavelmente ).. "carinhosa"...
( de vez em quando...
... pelo menos... no início...
quando não estava jogando...
o tal jogo-perverso...
que falamos ainda há pouco...)...
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esse era o ambiente delicado...
( emocionalmente motivante...
mas... por outro lado... extremamente arriscado e perigoso...)...
em que eu me encontrava...
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mordido pelo veneno-venenoso...
de uma paixão meio sem fundamento...
me deixei "mergulhar-de-cabeça"...
nessa dança-macabra...
que caracterizou nosso primeiro mês de "namoro"...
antes de "fugirmos" para são-paulo...
dentro do fusquinha vermelho...
uma "dança-macabra"...
um clima de terror...
que durou... felizmente... apenas...
esse primeiro mês de relacionamento...
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a partir do momento em que viajamos para são-paulo...
para re-iniciar a vida do zero...
felizmente... esse clima de terror-psicológico...
se diluiu...
ficou... praticamente... inexistente...
o "santo" (maligno) que havia "baixado" nela...
tinha ido embora...
ela se tornou uma pessoa calma...
obcecada apenas com a ideia...
de ter uma filha...
( o sonho dela era ter uma filha...
... e não um filho...)...
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ao chegarmos em são-paulo...
com o dinheiro suficiente para passar...
no máximo... duas noites...
numa pensão barata...
na rua augusta...
... não tivemos outra alternativa...
a não ser nos "instalarmos"...
num estúdio que meus parentes haviam montado...
num anexo à casa deles...
ficamos lá uns dois ou três meses...
numa situação meio parasitária...
já que não havia muito diálogo...
entre a lenira e meus parentes...
até o dia em que nos mudamos... finalmente...
para um apartamento térreo...
tipo quarto-e-sala...
no bairro de santa-cecília...
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foi nesse estúdio anexo à casa de meus parentes...
que o tauê foi concebido...
na fase de pré-natal...
a lenira se revelou...
uma pessoa cuidadosa consigo-própria...
... e consequentemente também...
com a saúde do filho que estava gerando...
uma fase tranquila...
diametralmente oposta ao tumulto...
daquele primeiro-mês-louco...
( ainda no rio-de-janeiro...)...
que caracterizou nosso...
primeiro-mês-de-relacionamento...
um mês onde nossa vida em comum...
se alternava entre...
momentos de grandes carinhos de um para com o outro...
e... em outros momentos...
aquele jogo-cruel das inúmeras ameaças de me "trair"...
colocando em prática...
o novo termo...
a nova palavra...
o novo conceito...
recém-incorporado ao meu vocabulário...
nessa época...
ainda morávamos no rio-de-janeiro...
estávamos morando dentro do meu quarto...
na casa dos meus pais...
ela trabalhava como recepcionista...
numa academia-de-ginástica em copacabana...
cujo dono era um garotão...
que também era professor lá...
uma situação completamente "perigosa"...
dentro desse referencial-psicológico...
que acabamos de descrever...
e... o que teoricamente já era previsível...
realmente... aconteceu...
... no dia em que ela chega lá no quarto...
após o trabalho...
chorando...
me abraçando...
dizendo que... aconteceu...
(eu):... " aconteceu o que..?..."
(ela):... ( continua chorando )...
(eu):... " você transou com ele..?..."
(ela):... ( diz que sim )...
ela me pergunta se eu perdoo ela...
digo que... não...
neste momento...
ela não discute...
começa... lentamente...
a se dirigir para a porta-de-saída...
eu... percebendo que...
se ela saísse...
iria gerar uma situação...
praticamente irreversível...
dentro de um pensamento que deve ter durado...
um milionésimo de segundo...
tomo a decisão :
" está bem... eu lhe perdoo..."...
nos abraçamos...
mas a dor da "apunhalada"...
dessa vez... doeu...
nunca na minha vida...
tinha me acontecido...
algo semelhante...
começamos... lentamente...
a conversar...
eu pergunto como é...
que aconteceu a coisa...
ela vai me respondendo...
tentando me "consolar" dizendo que muitas vezes...
na hora da transa...
confundia os nomes...
e o chamava de luis...
um "consolo"...
que não me consolava...
de maneira nenhuma...
perguntei se ela gostou...
ela disse que sim...
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é isso aí...
a vida continua...
esse foi o "nascimento"...
do nosso casamento...
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conforme observamos ainda há pouco...
a coisa se acalmou...
nos meses...
nos anos seguintes...
o tauê nasceu um ano depois...
e o peter... três anos depois...
o "oceano" se manteve calmo...
durante essa fase de gestação e nascimento...
dessas duas crianças maravilhosas...
e... também durante a fase da infância deles...
até atingirem as idades de 7 e 5 anos... respectivamente...
o ano era o de 1986...
ano em que...
o "santo baixou"...
novamente...
desta vez... pra valer...
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me despeço...
desejando tudo-de-bom... para você...
um grande abraço...
...luis antonio...