...33... filosofando... part thirty-three...

Não  foi  a  primeira  vez  na  minha  vida...
que  escutei  a  palavra...  "traição"...

mas...  foi  com  a  lenira...
logo  durante  nossas  primeiras  saídas  após  as  aulas  de  ballet...

que  esse  termo...
me  chamou  à  atenção...

foi  a  partir  desses  nossos  primeiríssimos  papos...
que  o  termo  passou  a  ter  um  significado  bem  intenso...

o  termo  foi  introduzido  ao  meu  vocabulário...
de  uma  forma  macabra...
como  se  fosse  um  termo  perigoso...
um  termo-ameaça...
um  termo  de  um  filme-de-terror...

o  termo  era  usado...
em  frases  do  tipo :

..." você  jura...  luis...  que  nunca  vai  me  trair..?..."

então...
a  partir  desse  novo  elemento  no  meu  vocabulário...
o  conceito  de  "traição"  entre  um  casal...
dava  origem  também  ao  conceito  de  "desconfiança"...
de  sentir  que  a  qualquer  momento...
poderia  haver  um  "golpe-mortal"...
ou  seja...
sua  própria  "amada"...
poderia  lhe  "golpear"...
ao  se  relacionar...
ou  "simplesmente"  paquerar...
um  outro  homem...  ao  mesmo  tempo...
atropelando  portanto  o  namoro  atual...
ou  seja...
nosso  namoro...

uma  situação  de  "terror"...
de  terror-psicológico...
já  planejado  de  antemão...
( consciente  ou  inconscientemente...)...

uma  ameaça  constante  no  ar...
que  estaria  consolidando...
a  cada  minuto  que  ia  passando...
seu  domínio  sobre  mim...

eu...  ao  aceitar  o  jogo-perverso...
que  consistia  em  conviver  com  uma  pessoa...
que  estava  eternamente...
assumindo  explicitamente...
que...  se  eu  não  cumprisse...
   imediatamente...
    submissamente...
     e...  prontamente...
todas  as  suas  "ordens"  implícitas...
ela  poderia  a  qualquer  momento...
dar  um  sorriso-zinho  para  o  primeiro  que  aparecesse...
e...  se  relacionar  com  ele...
( mesmo  que  fosse  de  uma  forma...  "relâmpago"...)...
gerando...  dessa  forma...
o  meu  ( merecido? )  "castigo"...
caso  eu  "ousasse"...
não  ser  seu  "escravo"... cem-por-cento  escravizado...

uma  situação  tão  patológica...
consequência de uma opção por parte do dominado... (ou  seja:..  eu )...
em  aceitar  tais  regras...

regras  de  um  jogo  perverso...
elaborado  por  uma  pessoa...
cuja  lógica  de  raciocínio...
achava  que  não  estava  fazendo  nada-de-mais...

uma  lógica...
baseada  na  premissa...
de  que  ela  pertencia  a  uma  classe...
sem  grandes  potencialidades  financeiras...
e  que...
  ao  namorar  o  garoto-utopicamente-romântico-e-carente...
   de  uma  classe-social...
     um  pouquinho  mais  "privilegiada"...
poderia...  ( e...  deveria...)...
usar  e  abusar
de  seus  dons  de  sedução...
para...
    ( em  prol  de  uma  "justiça"  social...
         misturada  com  uma  certa  "perversidade"...)...
manter esse  jogo-de-dominação-perverso...
onde  o  principal  responsável  por  sua  manutenção...
era...  sem  dúvida...  eu  mesmo...
( por  aceitar  esse  jogo...)...

uma  aceitação  quase  que  inevitável...
devido  ao  lastimável  estado-de-carência
em   que  eu  me  encontrava...

uma  carência  antiga...
...  " milenar " ...
nascida  desde  os  tempos  do  colégio-militar...
e  que  se  tornava  bem  viva...
naquele  momento  de  vida...
apesar  das  inúmeras  aventuras  sensuais-e-sexuais...
que  aconteciam  naturalmente...
no  ambiente-do-ballet...

...  pois  a  proposta  da  lenira...
era  morar-junto...  mesmo...
era  casar...
se  não  fosse  formalmente...
pelo  menos...  informalmente...

o  compromisso  que  ela  estava  propondo...
    ( e  assumindo  na  prática...
            ( já  que  era  ela  quem  tomava  as  iniciativas...)...)...
era  pra  valer...
            ( já  falava  em  ter  filhos...  etc...)...
... preenchendo  dessa  forma...
a  minha  carência  visceral...
            ( naquele  momento...)...
que  era  ter  um  projeto-de-vida...
com  uma  "gatinha"  bonitinha...
quatro  anos  mais  nova  do  que  eu...
e...  ( razoavelmente ).. "carinhosa"...
         ( de  vez  em  quando...
            ... pelo  menos...  no  início...
                 quando  não  estava  jogando...
                   o  tal  jogo-perverso...
                     que  falamos  ainda  há  pouco...)...

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esse  era  o  ambiente  delicado...
     ( emocionalmente  motivante...
         mas...  por  outro  lado...  extremamente  arriscado  e  perigoso...)...
em  que  eu  me  encontrava...

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mordido  pelo  veneno-venenoso...
de  uma  paixão  meio  sem  fundamento...
me  deixei  "mergulhar-de-cabeça"...
nessa  dança-macabra...
que  caracterizou  nosso  primeiro  mês  de  "namoro"...
antes  de  "fugirmos"  para  são-paulo...
dentro  do  fusquinha  vermelho...

uma  "dança-macabra"...
um  clima  de  terror...
que  durou...  felizmente...  apenas...
esse  primeiro  mês  de  relacionamento...

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a  partir  do  momento  em  que  viajamos  para  são-paulo...
para  re-iniciar  a  vida  do  zero...
felizmente...  esse  clima  de  terror-psicológico...
se  diluiu...
ficou...  praticamente...  inexistente...

o  "santo"  (maligno)  que  havia  "baixado"  nela...
tinha  ido  embora...

ela  se  tornou  uma  pessoa  calma...
obcecada  apenas  com  a  ideia...
de  ter  uma  filha...
( o  sonho  dela  era  ter  uma  filha...
     ... e  não  um  filho...)...

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ao  chegarmos  em  são-paulo...
com  o  dinheiro  suficiente  para  passar...
no  máximo...  duas  noites...
numa  pensão  barata...
na  rua  augusta...

...  não  tivemos  outra  alternativa...
a  não  ser  nos  "instalarmos"...
num  estúdio  que  meus  parentes  haviam  montado...
num  anexo  à  casa  deles...

ficamos  lá  uns  dois  ou  três  meses...
numa  situação  meio  parasitária...
já  que  não  havia  muito  diálogo...
entre  a  lenira  e  meus  parentes...

até  o  dia  em  que  nos  mudamos...  finalmente...
para  um  apartamento  térreo...
tipo  quarto-e-sala...
no  bairro  de  santa-cecília...

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foi  nesse  estúdio  anexo  à  casa  de  meus  parentes...
que  o  tauê  foi  concebido...

na  fase  de  pré-natal...
a  lenira  se  revelou...
uma  pessoa  cuidadosa  consigo-própria...
...  e  consequentemente  também...
com  a  saúde  do  filho  que  estava  gerando...

uma  fase  tranquila...
diametralmente  oposta  ao  tumulto...
daquele  primeiro-mês-louco...
     ( ainda  no  rio-de-janeiro...)...
que  caracterizou  nosso...
primeiro-mês-de-relacionamento...

um  mês  onde  nossa  vida  em  comum...
se  alternava  entre...
      momentos  de  grandes  carinhos  de  um  para  com  o  outro...
e...  em  outros  momentos...
      aquele  jogo-cruel  das  inúmeras  ameaças  de  me  "trair"...
      colocando  em  prática...
           o  novo  termo...
           a  nova  palavra...
           o  novo  conceito...
      recém-incorporado  ao  meu  vocabulário...

nessa  época...
ainda  morávamos  no  rio-de-janeiro...
estávamos  morando  dentro  do  meu  quarto...
na  casa  dos  meus  pais...

ela  trabalhava  como  recepcionista...
numa  academia-de-ginástica  em  copacabana...
cujo  dono  era  um  garotão...
que  também  era  professor  lá...

uma  situação  completamente  "perigosa"...
dentro  desse  referencial-psicológico...
que  acabamos  de  descrever...

e...  o  que  teoricamente  já  era  previsível...
realmente...  aconteceu...

...  no  dia  em  que  ela  chega  lá  no  quarto...
após  o  trabalho...
chorando...
me  abraçando...
dizendo  que...  aconteceu...

(eu):...     " aconteceu  o  que..?..."

(ela):...     ( continua  chorando )...

(eu):...      " você  transou  com  ele..?..."

(ela):...     ( diz  que  sim )...


ela  me  pergunta  se  eu  perdoo  ela...

digo  que...   não...

neste  momento...
ela  não  discute...
começa...  lentamente...
a  se  dirigir  para  a  porta-de-saída...

eu...  percebendo  que...
se  ela  saísse...
iria  gerar  uma  situação...
praticamente  irreversível...

dentro  de  um  pensamento  que  deve  ter  durado...
um  milionésimo  de  segundo...
tomo  a  decisão :

" está  bem...   eu  lhe  perdoo..."...

nos  abraçamos...
mas  a  dor  da  "apunhalada"...
dessa  vez...  doeu...

nunca  na  minha  vida...
tinha  me  acontecido...
algo  semelhante...

começamos...  lentamente...
a  conversar...

eu  pergunto  como  é...
que  aconteceu  a  coisa...

ela  vai  me  respondendo...
tentando  me  "consolar"  dizendo  que  muitas  vezes...
na  hora  da  transa...
confundia  os  nomes...
e  o  chamava  de  luis...

um  "consolo"...
que  não  me  consolava...
de  maneira  nenhuma...

perguntei  se  ela  gostou...
ela  disse  que  sim...

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é  isso  aí...
a  vida  continua...
esse  foi  o  "nascimento"...
do  nosso  casamento...

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conforme  observamos  ainda  há  pouco...
a  coisa  se  acalmou...
nos  meses...
nos  anos  seguintes...

o  tauê  nasceu  um  ano  depois...
e  o  peter...  três  anos  depois...

o  "oceano"  se  manteve  calmo...
durante  essa  fase  de  gestação  e  nascimento...
dessas  duas  crianças  maravilhosas...

e...  também  durante  a  fase  da  infância  deles...
até  atingirem  as  idades  de  7  e  5  anos...  respectivamente...

o  ano  era  o  de  1986...
ano  em  que...
o  "santo  baixou"...
novamente...

desta  vez...  pra  valer...

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me  despeço...
desejando  tudo-de-bom...  para  você...

um  grande  abraço...
                                ...luis antonio...