andei muito com o máicol...
desde a época do vestibular... ( 1972 )...
até a época do trancamento-de-matrícula na PUC... ( 1974 )....
depois disso...
nossos caminhos seguiram... naturalmente... direções divergentes...
já que ele estava envolvido com o curso de engenharia da PUC...
e eu... com a matrícula recém-trancada...
iniciava um novo ciclo na minha vida...
onde haveria mais espaço...
para que eu pudesse substituir o excesso de vida-acadêmica...
por novos horizontes...
o "corte"... ( epistemológico ? )... do trancamento-de-matrícula...
foi seguido imediatamente pela fase ( maravilhosa ) de saquarema...
onde o surf...
... o contato com a natureza virgem daquela época...
fizeram com que o meu ser...
encontrasse... novamente... o seu centro...
um surfista metódico...
se as ondas estavam "rolando" em itaúna...
eu optava por ir remando pelo mar...
durante o percurso de um quilômetro...
que ligava minha cabaninha...
ao pico de itaúna...
( ao invés de ir caminhando pela areia...)...
... pois... desta forma...
ao chegar no pico...
os músculos do meu braço...
já estariam acostumados...
... já estariam aquecidos...
para cumprir seu papel-indispensável...
na hora da prática do surf-em-si...
bons tempos...
jamais me esquecerei da fase boa... e saudável...
onde aluguei a cabaninha...
na nossa querida... saquarema...
e... graças à fase-de-saquarema...
conheci dois grandes amigos...
que me acompanharam na trajetória dos seis-anos de matrícula-trancada...
( de 1974... a 1980...)...
(... com exceção do ano de 1978...
onde tentei voltar para a PUC durante um semestre...
o qual só serviu... na prática...
para "sujar" meu boletim (histórico) escolar...
pois... abandonei o semestre pela metade...
sem ter formalizado o trancamento...
e... portanto...
terminei levando "zero" em tudo...)...
mas... tudo bem...
apesar de... na prática...
o histórico ter se "sujado" dessa forma...
apesar disso... pelo menos...
tive um bom contato com a teoria-dos-grupos-e-anéis...
um assunto fascinante...
onde eu estudava com prazer...
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e... voltando ao "menu-principal'...
foi graças à fase-de-saquarema...
que conheci dois grandes amigos...
o... paranauinha...
e... o... rousseau...
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o paranauinha me introduziu à fotografia...
a fotografia me levou... indiretamente... ao desenho...
e o desenho... ao ballet...
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nada planejado...
tudo acontecendo meio por acaso...
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um dia... visitando o richard...
( lembra do richard ?...
... o mesmo de alguns "capítulos" atrás...?...)...
... ele e sua mãe me convidam para estudar ballet...
na academia que eles tinham acabado de abrir...
no edifício "vitrine-de-ipanema"...
me deram a roupa apropriada para a aula...
que consistia num par de peças:
... um maiô azul-claro...
... e uma calça azul-marinho... tipo "collant"...
que deveria ser vestida após o maiô...
ficando... portanto... a calça sobre o maiô...
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além do instrumento básico...
que era aquela roupa específica...
me disseram que eu não precisava me preocupar...
com nenhum tipo de pagamento...
pois eles teriam muito prazer...
em me oferecer uma bolsa-integral...
me levaram lá...
me introduziram à secretária...
... à professora...
e... tranquilamente...
me vi... dentro da aula das três-da-tarde...
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logo a partir dessa primeira aula...
percebi que... tudo o que eu precisava... naquele momento...
era de aulas desse tipo:
uma professora nota-mil...
numa academia também... nota-mil...
mas... o principal era o efeito-terapêutico...
que a sequencia-de-exercícios estava produzindo no meu corpo...
e... consequentemente... na minha alma...
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desde criança...
meus amigos comentavam...
... ( numa boa... sem malícia...
... apenas comentavam...)
que eu pisava com as pernas tortas...
( que nem o garrincha...)...
e... os exercícios de ballet...
indiretamente... ( e... diretamente...)...
mexiam... re-mexiam...
apalpavam... re-estruturavam...
todo esse problema-estrutural...
que eu carrego desde a infância...
a sequencia de exercícios...
"développé"... "battement"... etc...
ao alongarem os músculos das coxas...
das costas...
ao trabalharem com cada músculo...
com cada articulação... tornozelo... etc...
"mexiam" em pontos dentro do meu corpo...
que nunca haviam sido trabalhados...
ao contrair os músculos glúteos...
ao girar toda a bacia...
num movimento circular... ou elíptico...
eu "viajava" no universo da geometria...
que eu conhecia tão bem...
e... desenhava no espaço...
suas formas geométricas...
sentindo... vivenciando...
em cada músculo do corpo...
a criação de tais linhas...
nesse espaço tri-dimensional...
... em sintonia com a música...
e com as pessoas da turma...
uma turma pequena...
a academia da mãe do richard...
não havia sido projetada para turmas enormes de 20 ou 30 alunos...
era uma salinha aconchegante...
para uma turma de... no máximo... 6 pessoas...
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me tornei um aluno dedicadíssimo às aulas...
a minha relação com a professora rosemary...
era uma relação meio...
digamos... patológica... (?)...
talvez...
sei que não era só o ballet que me fascinava...
a personalidade docemente-autoritária da rosemary...
despertava em mim...
uma vontade de ser o aluno mais "cê-dê-éfi " do mundo...
em termos de trabalhar cada milímetro do corpo...
rumo a um desenvolvimento que tornava a musculatura...
cada vez mais elástica e fluida...
manifestando-se... desta forma... na coreografia...
sua influência sobre mim era tão grande...
que eu fazia os exercícios em casa...
para poder me desenvolver ainda mais...
lavava a roupa... ( a malha )...
com carinho... com antecedência...
para poder estar pronto para a aula...
onde eu chegava cêdo...
de banho tomado...
tudo cuidadosamente preparado...
com bastante antecedência...
com muito carinho...
para o grande evento...
ou seja :
a aula das três-da-tarde...
essa fase de intensa disciplina e aprendizado...
motivada por uma grande "mola-propulsora-interior"...
gerada pela figura "docemente-autoritária" da professora...
durou alguns bons meses...
um semestre...
ou mesmo talvez... um ano...
( não sei ao certo...)...
... até o dia em que resolvi dar uma olhadinha...
na academia nino-giovanetti...
no sétimo andar...
do edifício... centro-comercial-de-copacabana...
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antes de entrar no elevador... rumo ao sétimo andar...
todo o meu ser é invadido por aquela sensação...
de que eu estava indo a um lugar... muito especial...
afinal eu já conhecia a academia nino-giovanetti...
através de um ensaio que eles fizeram um pouco antes do carnaval...
lá no clube botafogo...
em frente ao shopping-center-rio-sul...
naquela época...
eu namorava uma menina que estudava lá...
e... ela me pediu para encontrá-la...
lá... no clube botafogo...
para sairmos depois do ensaio...
foi lá que vi... pela primeira vez...
o nino... em pé... em cima de uma mesa...
dirigindo a turma de uns 30 ou 40 alunos...
na coreografia especial...
que eles tinham feito para o carnaval...
ao invés de um som de vitrola...
( ou fita-cassete... que é o que era usado na época...)...
o som lá no ensaio...
estava muito vivo... muito presente...
gerado por três ou quatro músicos...
lá da bateria de uma escola-de-samba...
com seus instrumentos-de-percussão...
me lembro da cena onde o nino... lá... em pé... em cima-da-mesa...
gritava para a turma :
" quero ver esses quadris rebolando...
solta a franga...
vamos lá... "
e o som "rolando" solto...
a bateria "botando-pra-quebrar"...
num ritmo alucinante...
as meninas... "soltando-a-franga"...
uma academia de dançarinos super-profissionais...
fiquei impressionado...
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portanto... antes de entrar no elevador... rumo ao sétimo andar...
eu já sabia...
que eu estava me dirigindo para a famosa academia...
uma academia supra-sumo...
e... eu iria lá...
visitá-los...
sem aviso prévio...
sem ninguém que me apresentasse a eles...
ia lá... ver qual é...
sem maiores intenções...
sem maiores pretensões...
( se bem que eu adoraria...
poder estudar em tal academia...)...
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ao chegar lá...
já havia uma aula... "rolando"...
a secretária me atende...
pede para eu esperar ali... na sala-de-espera...
para eu ficar à vontade...
me sentar...
que o nino estava dando aula...
e já vinha...
espero tranquilo...
a aula termina...
saem todos aqueles bailarinos...
com a adrenalina a mil- por- hora...
todo mundo falando ao mesmo tempo...
aquela "loucura" saudável...
característica de um final de uma aula de ballet...
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por acaso eu estava com minha roupa de ballet na minha mão...
pois havia acabado de fazer uma aula na academia da mãe do richard...
e... ao esperar o nino na sala-de-espera...
deixei a roupa em cima do banco ao meu lado...
o nino ao sair da aula...
junto com todas as meninas... etc...
a primeira coisa que ele fala ao me ver é :
" de quem é essa malha ?..."
respondo que é minha...
explico que eu já danço há cerca de um ano...
na academia onde a rosemary dá aula...
ele pergunta se eu gostaria de fazer algumas aulas...
lá na academia dele...
respondo que adoraria...
mas que haveria o problema da mensalidade...
que seria difícil para mim...
naquele momento... assumir...
ele imediatamente diz que faria uns testes comigo...
e... dependendo da "performance"...
eu poderia ter uma bolsa-integral...
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o fato é que não houve teste nenhum...
passei a frequentar a academia...
e a bolsa-integral foi doada...
dentro daquele espírito super-generoso...
característico do nino...
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com a base adquirida...
durante o período em que aprendi o be-a-bá do ballet...
com a rosemary...
eu consegui "sobreviver"...
aos desafios impostos pela coreografia de alto-nível...
que a escola do nino trabalhava...
percebi que os exercícios da rosemary...
eram fundamentais para dar ao estudante...
uma base realmente sólida...
para ingressar em qualquer escola mais "avançada"...
onde novas técnicas seriam apreendidas...
e essa escola mais avançada era... sem dúvida...
a academia do nino...
fui introduzido a novos exercicios...
a novas técnicas...
mas... além das técnicas... puramente técnicas...
minha cabeça... minha mente...
infelizmente...
se encontrava num estado de completo despreparo...
em relação à vida-em-geral...
havia uma confusão-mental...
dentro do meu interior...
apesar de eu reconhecer...
a beleza do estudo...
em que eu estava me empenhando... ( a "mil" por hora...)...
apesar de saber que...
toda essa técnica-do-ballet era algo super-louvável...
que merecia toda a atenção...
apesar de eu dar o devido-valor...
a toda essa "ciência-arte"...
a qual meu corpo e minha alma...
estavam assimilando tão bem...
apesar disso tudo...
existia uma certa contradição...
... uma certa visão-de-mundo...
um tanto... digamos... "patológica"...
na minha visão...
sobre o meu envolvimento...
com o mundo... do... ballet...
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o ballet era visto por muitos...
como uma coisa... meio... "marginal"...
como um ambiente...
onde... os únicos "homens" praticantes...
eram "gays"...
e... se... os homens eram "gays"...
a maioria das mulheres eram também vistas...
com sendo... digamos...
mulheres onde não seria difícil convencê-las de que...
uma "trepadinha-rápida-antes-da-aula"...
deveria ser até saudável...
para ir "esquentando" os músculos...
eu... consciente disso tudo...
não me importava de ter meus colegas "gays"...
pois eu sabia que eu não era...
mas... quanto à ala feminina...
essa parte sim...
eu aceitava numa boa...
a hipótese de que a maioria toparia...
uma sessão de exercícios preliminares...
( ou pós-liminares...)... às aulas...
uma visão hipotética do ambiente...?
nem tanto...
a coisa tinha... realmente...
tais características...
mas...
no entanto...
se...
na época do "ballet" eu ainda estivesse...
sob a lúcida orientação de pessoas como... por exemplo...
meu professor-de-piano...
ele... muito provavelmente...
me apresentaria a realidade-do-mundo-do-ballet...
de uma forma menos estereotipada...
onde eu poderia ter uma relação com tal arte...
de uma forma menos "porra-louca"...
de uma forma onde o ballet pudesse ser visto...
dentro de uma perspectiva mais histórica...
que iria provavelmente contribuir...
para que eu me situasse dentro de um contexto...
realmente bem mais acadêmico...
no sentido de haver uma visão...
onde o bailarino não tivesse que estar necessariamente associado...
ao conceito da malandragem... do gigolô... etc...
e... minha mãe e meu pai...
embora soubessem da minha (super) participação na escola...
e do meu (super) empenho...
eles... optavam por não darem nenhuma opinião...
não se envolviam em relação a esse tema...
não me apoiavam...
mas também... não me proibiam...
aliás... nessa época... minha relação com eles era praticamente nula...
não havia.... praticamente... nenhuma interação...
as aulas com o professor-de-piano...
haviam sido suspensas há muitos anos...
( por iniciativa minha )...
de modo que eu não tinha direção na vida...
não existia ninguém que pudesse me orientar de uma forma sábia...
madura... lúcida... e coerente...
como meu professor-de-piano fazia...
a ausência desse referencial-saudável...
fazia com que o "ballet" fosse considerado...
como algo... meio... "clandestino"..
algo bom...
saudável...
porém... meio... "clandestino"...
onde seus participantes deveriam ser... necessariamente...
pessoas pertencentes a um certo... "sub-mundo"...
... o "sub-mundo" dos "gays"...
... das "mulheres-sensuais-gostosas-e-que-adoravam-trepar"...
e dos... "aprendizes-a-gigolô"...
e o espelho...
o grand-espelho...
ficava o tempo todo...
assistindo à turma...
executar...
o... grand-plié...
até já...
me despeço... rapidinho...
já de olho no próximo "capítulo"...
mas... ao mesmo tempo... relutante...
sem saber ao certo...
se isso que estou fazendo...
( escrever essas "memórias"...)...
é bom... ou... não...
um grande abraço...
...luis antonio...