no ano de 1972...
ao ser contratado para dar aulas de matemática no anglo-americano...
e me ver...
diante de uma turma de 50 alunos...
do curso científico...
(... apesar do susto inicial...)
a forma com que eu tratava os alunos...
me ajudou a conquistar a simpatia da "rapaziada" em geral...
a minha maneira de ser...
o meu "jeitão" de ser...
( um cara pacífico...
amante da matemática...
e... ao mesmo tempo... adotando a moda dos anos 70...
ao usar um cabelo longo que atingia os ombros...)...
contribuía para que eu fosse bem "aceito" pela turma...
consequentemente os dois diretores do colégio...
também estavam satisfeitos...
no entanto...
o excesso no meu jeito "excêntrico" de ser...
deveria... provavelmente... gerar...
uma "pontinha" de insatisfação...
por parte da diretoria...
e... como minha carga-horária já estava muito intensa...
um dos diretores... um dia... me chamou...
para perguntar se eu conhecia algum colega lá da faculdade...
que pudesse assumir algumas turmas lá...
respondi-lhe que sim...
que conhecia um amigo meu...
que daria "conta-do-recado"... tranquilamente...
ao sair de lá... procurei o máicol...
e lhe ofereci o emprego...
ele "pulou" de alegria...
... de contentamento...
e... a paritir daí...
assumiu as turmas que o diretor lhe deu...
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a forma com que o máicol se comunicava com a geração mais velha...
ou seja... com a geração dos nossos pais...
( ou da diretoria do anglo... por exemplo...)...
era tal que... fazia com que ele...
conquistasse facilmente a confiança dos mais velhos...
e isso... para mim era ótimo...
pois... eu não tinha muito essa facilidade-de-comunicação...
com a geração-mais-velha...
( com exceção da minha mãe e do professor-de-piano...)...
e o máicol... ao possuir o "talento-natural" na comunicação com os mais velhos...
... indiretamente... me "poupava" desse "trabalho" de ter que conversar com eles...
...uma conversa às vezes necessária...
no sentido de possibilitar a realização de certas "negociações"...
como por exemplo: no caso da nossa relação com a diretoria do anglo:
existia sempre a possibilidade de um acordo...
visando a alocação de turmas...
para esse ou aquele professor...
esse poderia ser um entre muitos outros exemplos...
que servem para ilustrar o fato de que...
sem o diálogo entre nós e a geração anterior à nossa...
muitos projetos estariam "emperrados"...
ou... simplesmente... abortados...
ou pior: ...nem teriam a oportunidade de serem concebidos...
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se... por um lado...
...o máicol adorava conversar com a geração dos nossos pais...
eu... por outro lado...
preferia continuar imerso nos meus (infinitos) pensamentos...
e deixava... (com todo o prazer)... com ele...
a "tarefa"... a "função"... de conquistar a simpatia dos mais velhos...
simpatia essa que... muitas vezes... rendiam bons frutos...
um dos personagens significativos dessa geração mais velha...
que o máicol... naturalmente... conquistou...
foi... meu próprio pai...
papo vai... papo vem...
ele pergunta se haveria a possibilidade...
de nós dois nos "encaixarmos" num desses navios-cargueiros...
para passarmos os meses de férias (janeiro e fevereiro)... na europa...
... dentro da metodologia do manual-de-viagens...
"europe on five-dolars a day"...
meu pai diz que sim...
não haveria muito problema... não...
ele poderia arranjar isso pra gente...
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fomos num camarote especial para visitantes...
... para "special-guests"...
num cargueiro enorme... holandês... moderníssimo..
que transportava não-sei-quantas-toneladas de ferro a granel...
do porto do tubarão no espírito-santo...
para o porto de bordeaux na frança...
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como está dando para perceber...
nós dois formávamos uma "dupla" onde...
quase que instintivamente... ( ou melhor: ... intuitivamente...)...
percebíamos que a distribuição de "funções"...
rendiam... muitas vezes... bons frutos...
ele... ao "pegar-carona" nos meus projetos inacabados...
( minha relação com o diretor do anglo...
... minha relação com meu próprio pai...)...
ele... ao interagir verbalmente com essas "pessoas-chaves"...
( tão importantes no processo das realizações de nossos projetos...)...
conquistava a confiança delas...
resultando num "ganho" substancial para a dupla... (dinâmica?...)...
no caso da viagem à europa...
ele soube aproveitar...
de uma forma bem oportuna... inteligente... e... diplomática...
o fato de eu não ter muito diálogo com meu próprio pai...
... ao preencher tal lacuna...
... articulando a concretização da viagem-em-si...
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analogamente...
no caso do "diálogo" (praticamente inexistente) entre eu e o diretor do anglo...
ele... mais uma vez...
ao conquistar a simpatia e confiança do diretor...
criou condições favoráveis para negociar um plano de aulas para nós dois...
onde ficaríamos apenas com as turmas de reforço... (ou dependência...)...
... o que foi uma "jogada-de-mestre"...
já que o salário-hora das aulas-de-refôrço era igual ao das aulas-regulares...
sendo assim... seria muito mais interessante para nós (professores)...
darmos uma aulinha de reforço... para dois ou três alunos...
do que ter que "enfrentar" uma turma de 50 alunos...
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e eu... assistindo de camarote... suas negociações (em nosso nome)...
me surpreendia ao ver sua "astúcia"...
uma "astúcia" no sentido de uma "esperteza" no bom-sentido-da-palavra...
na medida em que ele conseguia... na maioria das vezes...
viabilizar a concretização de tais projetos...
que eram sempre... muito favoráveis para ambos...
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essa "arrumação" no nosso horário no anglo...
... na nossa carga-horária...
veio numa época (início de 1973)...
onde eu já estava cansado...
bem exausto do ritmo alucinante...
dos acontecimentos ocorridos em 71 e 72...
e... no meio desse meu cansaço-acumulado...
vejo o máicol pegar um lápis-e-papel...
e desenhar nosso novo horário...
concentrando um monte de turmas-quase-que-"fantasmas"...
ou seja... um monte de turmas-de-reforço...
nas tardes de segunda... terça... e quarta...
na hora em que ele "armou" o plano...
e conseguiu "executá-lo" (no sentido de ter a aprovação do diretor...)...
eu... na minha eterna distração...
ficava assistindo a tudo...
já percebendo onde ele queria chegar...
meio perplexo...
mas achando a ideia boa...
e... naquele mesmo dia da "invenção" do horário...
... ao sairmos da escola...
o plano ficou ainda mais claro...
o próprio máicol me explicava em detalhes...
... o que estava "rolando"...
" você não está vendo... luis...?
agora... ficamos com as turmas da dependência... do refôrço...
o salário continua o mesmo...
e não vamos ter que nos "matar" de trabalhar... "...
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realmente... existia a PUC... as tarefas da PUC... para nos ocupar...
não poderíamos ficar a vida inteira super-atarefados com o anglo...
o máicol tinha razão...
principalmente ele...
que estava largando a matemática...
para ir para a engenharia...
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(...enquanto isso...
...meus olhos estavam voltados...
... para saquarema...)
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antes de concluir...
seria interessante observar que esses dois exemplos citados...
( a viagem à europa... e o re-arranjo na carga-horária do anglo...)...
servem para ilustrar a estrutura da interação entre eu e o máicol...
esses dois exemplos faziam parte de um contexto mais geral...
... mais amplo...
no fundo eu... ao perceber que ele era bem prático...
nesse tipo de atividade... digamos... "funcional"... "concreta"... etc...
... eu... ao perceber isso... me acomodava...
e deixava que ele fizesse... concluísse... tais acertos...
( normalmente entre nós e alguma instituição...)...
por exemplo: ... no início... ao entrarmos pra PUC...
o processo de matrícula era um pouco complicado...
pela primeira vez na vida...
nós alunos... tínhamos a "liberdade" de escolher nossas matérias...
... de "desenhar" nosso horário...
e tentar viabilizá-lo de acordo com a disponibilidade de vagas... etc...
e... como ele se envolvia no processo...
ao ponto de querer fazê-lo para nós dois...
eu... por comodidade... deixava que ele o fizesse...
não me preocupava muito... pois sabia...
que ele era meticuloso e iria fazer boas escolhas...
portanto... eu... simplesmente... "assinava-em-baixo"...
na hora de submetermos nossa proposta de horário...
inúmeros outros exemplos dessa minha "acomodação"...
diante do seu excesso de "zelo" e cuidado... (nesse sentido)...
poderiam ser descritos...
na europa... por exemplo...
a "tarefa" de pesquisar hotel... pousada... trens... etc...
ficava sempre a seu "encargo"...
enfim... uma parceria onde cada um tinha uma "função":
... a parte das concretizações ficava com ele...
... a minha parte... até hoje... não sei ao certo...
qual seria a minha "função" nessa parceria...
( talvez... a de escutá-lo...
em suas infinitas divagações...)...
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me despeço...
desejando tudo-de-bom... para você...
um grande abraço...
...luis antonio...