Já que o relato de uma história não precisa...
... necessariamente... seguir uma linha temporal...
... uma linha-cronológica...
... podemos dar uns passinhos para trás... nessa linha-do-tempo...
e... colocar uma pequena lente-de-aumento...
sobre o ano-anterior...
ou seja... sobre o ano de 1971...
... antes de "acontecer" o anglo...
... antes de "acontecer" a fabiana...
mas já "tendo-acontecido"... ( desde 1969...)... o professor-de-piano...
junto com suas aulas de altíssimo nível...
tanto do ponto-de-vista da técnica do piano-em-si...
como do ponto-de-vista cultural...
e... mais importante ainda:
do ponto-de-vista de uma real educação...
... ao descortinar... perante meus olhos...
uma nova visão-de-mundo...
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muito bem... estamos nós... no ano de 1971...
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a estrutura do esqueleto-de-concreto-armado...
que sustentava o prédio do curso-vetor...
na avenida nossa-senhora-de-copacabana...
quase na esquina...
diametralmente oposta à do cine roxy...
... deveria ser uma estrutura extremamente forte...
.... extremamente bem construída...
pois... todos os dias...
o prédio recebia em seu interior...
uma fração significativa... da população-jovem-carioca...
cada andar possuía duas salas-de-aulas... tamanho-gigante...
cada uma... com capacidade para uns 100 alunos...
ou seja... aproximadamente 200 por andar...
digamos que houvessem uns 6 andares...
nessas condições...
neste caso...
seriam mais de mil seres-humanos...
uniformemente distribuídos...
e sustentados pela estrutura-do-prédio...
parabéns... à firma-de-engenharia...
que o construiu...
não sei como aguentava...
tanta gente... ao mesmo tempo...
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comprimidos no meio dessa densidade populacional...
tentávamos anotar as fórmulas físicas...
as reações químicas...
as demonstrações matemáticas...
que constituíam cerca de 90% dos assuntos trabalhados...
quando um professor de geografia-econômica...
ou de português... era... eventualmente convidado...
para dar algumas aulas-extras...
... era um alívio para todos nós...
podermos contemplar uma área-do-conhecimento...
um pouco menos árida...
um pouco menos técnica...
o professor de português...
ao fazer algumas digressões...
sobre a história-da-música...
resolvia... no meio de seu relato...
incluir ao vivo...
exemplos do que seria...
uma finalização de um trecho de uma ópera-dramática...
enchia seus pulmões de ar...
e reproduzia... a todo volume...
numa voz... afinadíssima...
os acordes-finais de alguma ópera-famosa...
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a turma delirava...
para nós... receber um professor assim...
era um alívio...
era um refresco... para a maioria de nós...
cansados... exaustos... saturados...
com o excesso de fórmulas...
... da matemática...
... da física...
...e ... da química...
no recreio... aquela massa-humana...
se deslocava através do acesso-pela-escada...
rumo à poluição da avenida-nossa-senhora-de-copacabana...
para fazer um lanche...
ou descansar os olhos... no horizonte azul lá da praia...
uma rotina diária...
de certa forma... massacrante...
mas que... por outro lado...
nos permitia trabalhar um conhecimento-acadêmico...
numa intensidade... jamais experimentada...
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um pouco antes de iniciar o ano dessa "maratona"...
que seria o vestibular...
minha mãe...
muito sabiamente...
muito preventivamente...
muito objetivamente...
já havia se informado...
já havia tomado-conhecimento...
das "fofocas" relativas à política-de-distribuição das bolsas-de-estudo...
lá do curso-vetor...
descobriu que eles dariam bolsa-integral...
a quem participasse da turma-especial IME-ITA...
( instituto-militar-de-engenharia... instituto-tecnológico-da-aeronáutica...)
ou seja...
para os alunos que tivessem suficiente "back-ground" acadêmico...
para poder acompanhar o rítmo da tal turma-especial...
um dos diretores do curso...
responsável pela distribuição das bolsas-integrais...
era também... um cara prático e objetivo...
ao invés de fazer um exame-de-seleção... burocrático...
para ver quem merecia... ( ou não )...
as tais bolsas-integrais...
ele... muito sabiamente... percebeu que...
bastaria para isso... aceitar os interessados...
que viessem do colégio-militar... ou do santo-inácio...
e... embora eu tenha largado o colégio-militar...
em meados da quarta-série-ginasial... para ir pro andrews...
mesmo assim...
fui aceito na tal turma-especial...
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e... não foi só um ganho...
em termos de bolsa-de-estudos...
foi também um ganho... valiosíssimo...
em termos de uma super-qualidade-de-ensino...
bem superior... à das turmas-normais...
os professores eram excelentes...
o nível dos alunos também...
respirávamos uma atmosfera de muita sintonia acadêmica....
de muito interesse... por parte de todos...
o estímulo ao estudo era muito saudável...
embora... exageradamente intenso...
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mas... por que todo esse bla-bla-blá sobre o curso vetor...?...
porque... as aulas-de-piano continuavam...
e eu... dentro do espírito super-pragmático do curso-vetor...
percebia que havia uma certa dissonância-tonal...
entre as melodias exercitadas no ambiente-exagerado das ciências-exatas...
e minhas abençoadas aulinhas-de-piano...
onde eu desenvolvia com o professor...
as sutilezas da sonoridade de algumas músicas de chopin...
... beethoven... etc...
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em uma dessas aulas...
pressionado pela carga-diária dos exercícios-de-matemática...
falei pro professor:
( eu )...: " acho que vou ter que interromper as aulas-de-piano...
por causa do vestibular... "
( ele )...: " pois é... não sei se eu faria isso...
pois a concepção moderna do "descansar"...
não é ficar parado sem fazer nada...
a concepção moderna do descansar...
seria aquela onde nós mudamos-de-atividade...
quer fazer quinhentos exercícios de matemática...?...
ótimo... vamos lá... fazemos os quinhentos exercícios...
e... de repentemente... colocamos o calção-de-banho...
e damos um mergulho-na-praia...
uma corridinha na praia...
agora... com o relógio no pulso...
... estamos correndo no calçadão...
mas com o relógio no pulso...
quinze minutinhos... vinte minutos no máximo...
seria apenas para "quebrar"...
a tarefa metódica dos quinhentos-exercícios...
apenas para dar uma "interrompidazinha"...
um contraste àquilo que estávamos nos concentrando...
... ao que estávamos focalizando...
essa seria a concepção moderna do descanso:
a mudança de atividade...
seria o grande descanso...
depois da breve interrupção...
aí sim... aí volta... volta aos estudos...
e... nesse caso... o estudo vai render ainda mais...
pois a mente experimentou...
um banho-de-contraste...
pequeno...
mas o suficiente para revigorar..."
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tal metáfora foi suficiente para que eu percebesse...
que... continuar no piano...
seria uma boa decisão...
realmente... o professor tinha razão...
seus argumentos... sua metáfora...
me convenceram...
e... se... naquela época...
eu já sentia os benefícios dessa escolha...
hoje em dia... confirmo nos meus pensamentos...
como foi acertado...
como foi feliz...
o fato de tê-lo escutado...
em sua argumentação...
em sua linha-de-raciocínio:
para contra-balancear o excesso-excessivo...
da super-exagerada quantidade-excessiva...
do esquema-quase-neurótico...
... do... curso-vetor...
... as aulas-de-piano...
... só poderiam me fazer bem...
como de fato me fizeram...
pois além da técnica-do-piano...
existia um educador... ( com letras-maiúsculas...)
constantemente me contando metáforas...
metáforas essas que me ajudavam...
a me orientar...
nessa época conturbada...
do curso-vetor...
e da ditadura-militar...
no ano de 1971...
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veremos... logo... logo... adiante...
como uma dessas inúmeras metáforas...
teve um efeito...
especialmente transformador...
em relação à como eu percebia a realidade... em geral...
me despeço...
desejando tudo-de-bom... para você...
até já...
um grande abraço...
...luis antonio...