...25... filosofando... part twenty-five...

...
daremos  agora...  um  bom  salto  para  o  futuro...
pois  estávamos  no  ano  de  1972...
e  "voaremos"  para  1978...

logo  em  seguida...  devemos  voltar  para  onde  estávamos...
ou  seja  para  1972...

portanto...
apertem  os  cintos...
o  avião-do-tempo...  vai  aterrizar...

...  no  primeiro  semestre  de  1978...

e   também...   dentro  de  um  fusquinha  vermelho...
que...  além  de  servir  como  meio-de-transporte...
servia  também  como  guarda-roupas...

guardávamos  lá...   vestidos...  biquinis...  toalhas...  etc...
só  faltavam  uns  cabides...
para  deixar  tudo  penduradinho...
dentro  de  uma  ordem  quase-perfeita...

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naquele  sábado-de-manhã...
quando  estávamos  passando  pela  avenida-niemeyer...
ao  invés  de  irmos  para  a  praia-de-são-conrado...
decidimos  dobrar  à  esquerda...

"emburacando"  ladeira-abaixo...
 ou  seja...  na  ladeira-em-espiral...
que  nos  leva...
ao  estacionamento  do  hotel  sheraton...

de  lá...  fomos  para  a  piscina...

" moleza  penetrar  naquele  hotel "...
( pensei  com  meus  botões )...

...  pensei  com  meus  botões...
mas  não  coloquei...
tais  pensamentos  em  palavras...
para  a  lenira...

pois  estava  assumindo...
que  ela  também  já  estava  sentindo  a  mesma  coisa...

ou  seja...
aquela  sensação  gostosa...
de  estarmos  dentro  de  um  mundo-moderno...
onde  tudo  é  "chique'...

...onde  tudo  funciona...  ( pelo  menos..  deveria  funcionar...)
num  ambiente  impecável...
que  é  o  de  um  hotel...
de   não-sei-quantas-estrelas...

e  nós...  naquela  fase  de  pegar  carona  em  tudo...

nós...
que  havíamos  nos  conhecido...
na  academia  de  ballet  nino-giovanetti...
...  achávamos  isso  tudo...  muito  interessante...

muito  interessante  a  forma  com  que  conseguimos...
meio  na  "cara-de-pau"...  tranquilamente...
"penetrar"  no  hotel...
sem  encontrar  nenhuma  resistência  por  parte  dos  seguranças...

e  essa  "penetração"...
tinha  um  simbolismo...

subir  na  vida...
da  forma  mais  rápida  possível...

"penetrando"...  no  mundo  da  "alta-society"...
mesmo  sendo  uma  "alta-society'...
bem  mixuruca...
onde  bastaria  ter  uns  dólares...
para  se  hospedar  no  tal  hotel...
... de  não-sei-quantas  estrelas...

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eu...  dentro  da  atmosfera  do  ballet...
percebia  que  a  sensibilidade  adquirida...
através  dos  inúmeros  exercícios  corporais...
criava  condições  para  uma  interação  com  as  pessoas...
baseada  num  toque  muitíssimo  sutil...

como  por  exemplo...
o  toque  sutilíssimo...
de  um  pulsar  de  leves  contrações-musculares...
que...  ao  contactarem  discretamente... a  pele  do  outro...
seriam  capaz  de  emitir  um  convite...
à  uma  relação  de  amizade...

...  à  uma  amizade  direcionada  a  uma  meta...
bem  objetiva:...    a  cama...

normalmente  a  cama  de  um  motel...
ou...  a  poltrona  do  banco-de-trás  de  um  automóvel...
ou  mesmo...  um  par-de-poltronas...
... no  escurinho-do-cinema  da  rita-lee...

e...  todo  esse  conjunto  de  toques-sutis...
faziam  parte  do  repertório  mais  avançado...
da  sequencia-oficial...  dos  exercícios-de-ballet...

a  sedução  indiscriminada...
a  visão-de-mundo  baseada  no  índice-estatístico...
da  quantidade-de-relações-sexuais-por-minuto...

índice  este...  muito  presente  em  nossa  filosofia...

...  na  filosofia  dos  dançarinos  profissionais...
e  semi-profissionais...
da  academia  nino-giovanetti...

...  onde...   uma  viagem  ao  sub-mundo...
fazia  parte  do  dever-de-casa...
do  aspirante  às  artes  coreográficas...

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e   eu...   acostumado  a  levar  a  sério...
qualquer  tipo  de  estudo...

levava  também  a  sério...
a  cartilha  filosófica  do  ambiente  artístico...
ao  qual...  estava  envolvido...

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e...  voltando  ao  "menu-principal"...

estávamos  eu  e  lenira...
na  piscina  do  sheraton...
perto  do  vidigal...

eu...  "curtindo"  o  fato  de  estarmos  num  hotel  de  muitas  estrelas...
aproveitando  o  lazer  momentâneo  de  estar  numa  espécie  de  clube...
sem  pagar  a  devida  mensalidade...

...  não  imaginava  que  minha  namorada  lenira...
tinha  outros  planos  bem  mais  ambiciosos...

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deitamo-nos  num  par  daquelas  super-cadeiras-reclináveis-brancas...
típicas  dos  hotéis-com-piscina...
e  ficamos  alguns  minutinhos  lá...

até  o  momento  em  que...
nossa  atenção  se  dirige...
a  um  dos  nossos  vizinhos-de-cadeira-de-piscina..
...  pelo  fato  de  ele  estar...
com  uma  câmera  sofisticadíssima... de  fotografar...
ou  seja...  uma  nikon...  ou  coisa-parecida...

papo  vai...  papo  vem...
exercitei  meu  inglês...
com  nosso  recém-conhecido   amigo...
...  que  se  chamava...  chris...

e...  após  exercitar  também...
a  função  de  intérprete-tradutor...
decidimos  os  três...  irmos  ao  seu  quarto...
para  fazermos  um  estudo-fotográfico...
visando  retratar  o  corpo  belíssimo...  da  lenira...
...  dentro  de  seu  biquini  branco...
que  contrastava  com  sua  pele  dourada  do  sol...

e   eu...   ainda  entorpecido  com  aquela  mentalidade-mesquinha...
de  aproveitar  tudo  o  que  é...  "de- graça"...
pensei  com  meus  botões...
" pelo  menos  fazemos  um  ensaio-fotográfico  da  lenira...
  podemos  ficar  com  as  fotos...
  ...  é...  legal...   ficamos  com  as  fotos "...

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além  disso...  existia  a  sensação...
de  estarmos  penetrando...
cada  vez  mais...
na  essência  física  do  hotel...

o  progresso  no  dever-de-casa...
do  estudante-número-um...
da  academia  nino-giovanetti...
estava  indo...  a  todo-vapor...

...  rumo  às  alturas  do  hotel...
naquele  andar  específico...
que  o  elevador  nos  deixou...

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nosso  recém- "amigo"   chris...
abre  a  porta  de  seu  quarto...
entramos...

... op's...   entramos...  em  termos...
pois  lenira...   havia  sumido...

fomos  até  o  corredor...
e  vemos  que  um  dos  seguranças...
está  conversando  com  ela...
no  sentido  de  lhe  explicar...
que  não  é  permitida...
a  entrada  de  estranhos...  nos  quartos...  

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...  nessa  altura  dos  acontecimentos...
eu  e  o  chris  resolvemos  esperá-la  no  quarto...
para  não  gerar  um  clima  de  discussão...  ou  tumulto...

...  com  a  certeza  de  que...  lenira  saberia...
como  convencer  o  guarda...
( que  nós  estávamos  ali...
  apenas  para  acompanhar  nosso  "amigo"  chris...
  no  seu  quarto...  por  um  tempo  rápido...)

dito  e  feito...
alguns  minutos   ( ou  segundos )   mais  tarde...
aparece  lenira...   tranquila...
dizendo  que  estava  tudo  resolvido...
( depois  me  contou  os  detalhes...
   ...  de  como  a  coisa  foi  "resolvida"... )..

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ok...   ( voltando  ao  quarto )...

estávamos  os  três  no  quarto...
prontos  para  o  ensaio-geral...
( da  escola-de-samba-de-vila-isabel )...
ou  seja...
prontos  para  o  tal...  ensaio-fotográfico...

o  "fotógrafo"  chris...
fez  o  que  qualquer  um  faria  em  seu  lugar...

simplesmente  pegou  a  câmera...
focalizou...  e...  iniciou  seu  "trabalho"...

poses...  e  mais  poses...

"cliques"...  e  mais  "cliques"...

e   eu...   meio  sem  saber  o  que  fazer...
naquela  situação  patética...
ficava  me  distraindo  no  espelho...
esticando  alguns  cachos  do  meu  próprio  cabelo...
evitando...  desta  forma...
olhar  a  realidade  tal  qual  ela  estava  alí...
...  se  apresentando...

( essa  era...  em  geral...
  a  atitude  escolhida...
  em  situações  desse  tipo...)

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naquela  época...
sempre  que  acontecia  de  existir  uma  situação...
onde  eu...  minha  namorada...  e  um  terceiro  cara  aparecia  na  "jogada"...

a  minha  tendência...
era  a  de  evitar  olhar  para  a  situação...

eu  preferia  "pagar-pra-ver"...
preferia  não  interferir...
para  ver  até  que  ponto...
a  coisa  iria  chegar...

seria...  talvez...  uma  espécie  de  maneira...
de   eu...   de  certa  forma...
"testar"...   até  que  ponto...
a  lenira  seria  fiel...  ( ou  não )...   a  mim...

até  que  ponto  ela  seria...
uma  espécie  de  "piranha"...  ( ou  não )...

só  que  esse  conceito  de  ela  poder  ser  uma  "piranha"...
era  algo  que  era  expressamente  proibido  de  entrar...
no  meu  leque  de  hipóteses...

eu...  simplesmente  descartava  à  força...
a  possibilidade  de  tal  hipótese...  ser  verdadeira...

para  mim...  tal  hipótese  não  existia...
seria  uma  hipótese  absurda...

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só  que  os  fatos  demonstravam  que...
a  probabilidade  de  existir...  um  parafuso-a-menos...
na  engrenagem  de  raciocínio  do  matemático...
...  era  enorme...

os  fatos  demonstravam  claramente...
que  a  hipótese  deveria  sim...
ser  levada  em  consideração...

mas...
os  olhos  não  veem...
o  que  o  coração...
...  se  recusa  a  ver....

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em  resumo...
eu...   lenira...   e  o  "fotógrafo"  chris...
naquela  situação  esdrúxula...
eu...  não  sabendo  para  onde  dirigir  meu  olhar...

a  sequencia  de  fotos...
começa  a  entrar  num  ritmo...
cada  vez  mais  intenso...

passo  a  desviar  o  meu  olhar...
do  espelho...  para  a  cena- em- si...

percebo  um  volume  extra...
debaixo  da  bermuda  do  chris...

começo  a  ficar  meio...  ( bastante )... chateado...
sem  saber  o  que  fazer...
diante  de  tal  situação...

de  repente  o  chris...
propõe  que  ela  tire  a  parte  do  sutiã  do  biquini...

ela  concorda...

...  conto  os  segundos...
para  que  tudo  termine...
e  possamos  sair  daquele  inferno...

o  carretel-do-filme-de-36- fotos...  acaba...
( naquela  época  não  existia  câmera-digital )...

peço  o  filme...

ele  me  dá...

tchau...   tchau...

saímos  da  aventura...

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já  no  fusquinha-vermelho...
pergunto  o  que  foi  que  houve...
com  o  segurança...

ela  me  conta  que  um  beijo-na-boca...
resolveu  o  problema...

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essa  foi  a  fase...
...  pré-casamento...

um  casamento  que  durou  sete  anos...

não  me  arrependo...
tivemos  dois  lindos  filhos...
que  os  amo...  muitíssimo...

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um  casamento  é  sempre  um  casamento...

no  meu  caso...
começou  com  o  pé-esquerdo...

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mas...
...não  quero  fazer  dessa  pequena  estória...
um  muro-de-lamentações...

...  não !...

a  lenira  não  era  uma  má  pessoa...
no  fundo...    uma  menina  bem  legal...

toda  essa  fofocada  que  acabei  de  contar...
se  deu  apenas...
na  fase  inicial  do  nosso  relacionamento...

na  fase...  digamos...  de  namoro...

essa  e  outras  estórias  semelhantes...
ocorreram...  partindo  meu  coração...  inúmeras  vezes...

mas...  depois  que  nos  casamos  de  fato...
no  sentido  de  morarmos  juntos...
a  coisa...  ( pelo  menos  aparentemente )...
se  estabilizou...

éramos  um  casal  tranquilo...
onde...  ( pelo  menos  aparentemente... ( repito )...)...
um  respeitava  o  outro...

os  sete  anos  de  casados...
não  foram  tão  ruins  assim...

eu  trabalhava  de  "montão"...
dando  aulas-de-matemática  em  vários  colégios...

e  ela...  de  certa  forma...
cuidava  bem  da  casa...
e  das  crianças...

éramos  uma  família...  de  certa  forma...
...  feliz...

portanto...
meu  objetivo  ao  escrever...
essas  pequenas  "fofoquinhas"...
a  respeito  da  fase  pré-casamento...
...  tem...  como  única  intenção...
tentar  dar  continuidade...  ao  espírito-das-18-cartas...
ou  seja...
um  relato  auto-biográfico...  com  várias  digressões  reflexivas...
sobre  nós...  seres  humanos  com  nossas  alegrias...  e...  dramas...

tal  relato  sofreria  uma  enorme  mutilação...
caso  eu  me  auto-censurasse...
e  não  incluísse...
estórias  desse  tipo...
cujo  objetivo...  é...
tentar  descrever  eventos  ocorridos  em  minha  vida...
eventos  esses  que  naturalmente  geram  reflexões...
sobre  como  eu  lidava  com  tais  eventos...

e...   essa  minha  "resposta"...  ( ou  "não-resposta" )...  a  tais  eventos...
gera  também...  novas  reflexões  sobre  as  diversas  abordagens...
que  poderiam  ser  adotadas...
diante  de  situações  desse  tipo...
ou  mesmo  antes...  ( preventivamente )...  que  tais  situações  aconteçam...

no  caso...  uma  situação...
que  foi  consequência  natural...
de  uma  visão-de-mundo...  distorcida...
imatura...
patológica...
que  se  refletia  na  minha  própria  maneira  de  ver...
e  de  me  relacionar...  com  minha  companheira...

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nós  seres-humanos  somos...  lindos...  sensíveis...  etc...

e...   também...   muitas  vezes...   bastante  complexos...
...   bastante  complicados...

muitas  vezes  nos  sentimos  meio  perdidos...
sem  saber  como  nos  conduzir...
perante  certas  situações...

como  por  exemplo...
quando  eu  me  encontrava...
meio  perdido...
acompanhado  apenas...
da  minha  própria  aflição...

eu...   e  minha  aflição...

juntos...
perdidos...
...  diante  do  espelho...
      ...  do  sheraton-hotel...

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me  despeço...
desejando...  muita  paz...  pra  você...

um  grande  abraço...
                               ...luis antonio...