...
daremos agora... um bom salto para o futuro...
pois estávamos no ano de 1972...
e "voaremos" para 1978...
logo em seguida... devemos voltar para onde estávamos...
ou seja para 1972...
portanto...
apertem os cintos...
o avião-do-tempo... vai aterrizar...
... no primeiro semestre de 1978...
e também... dentro de um fusquinha vermelho...
que... além de servir como meio-de-transporte...
servia também como guarda-roupas...
guardávamos lá... vestidos... biquinis... toalhas... etc...
só faltavam uns cabides...
para deixar tudo penduradinho...
dentro de uma ordem quase-perfeita...
--- --- ---
naquele sábado-de-manhã...
quando estávamos passando pela avenida-niemeyer...
ao invés de irmos para a praia-de-são-conrado...
decidimos dobrar à esquerda...
"emburacando" ladeira-abaixo...
ou seja... na ladeira-em-espiral...
que nos leva...
ao estacionamento do hotel sheraton...
de lá... fomos para a piscina...
" moleza penetrar naquele hotel "...
( pensei com meus botões )...
... pensei com meus botões...
mas não coloquei...
tais pensamentos em palavras...
para a lenira...
pois estava assumindo...
que ela também já estava sentindo a mesma coisa...
ou seja...
aquela sensação gostosa...
de estarmos dentro de um mundo-moderno...
onde tudo é "chique'...
...onde tudo funciona... ( pelo menos.. deveria funcionar...)
num ambiente impecável...
que é o de um hotel...
de não-sei-quantas-estrelas...
e nós... naquela fase de pegar carona em tudo...
nós...
que havíamos nos conhecido...
na academia de ballet nino-giovanetti...
... achávamos isso tudo... muito interessante...
muito interessante a forma com que conseguimos...
meio na "cara-de-pau"... tranquilamente...
"penetrar" no hotel...
sem encontrar nenhuma resistência por parte dos seguranças...
e essa "penetração"...
tinha um simbolismo...
subir na vida...
da forma mais rápida possível...
"penetrando"... no mundo da "alta-society"...
mesmo sendo uma "alta-society'...
bem mixuruca...
onde bastaria ter uns dólares...
para se hospedar no tal hotel...
... de não-sei-quantas estrelas...
--- --- ---
eu... dentro da atmosfera do ballet...
percebia que a sensibilidade adquirida...
através dos inúmeros exercícios corporais...
criava condições para uma interação com as pessoas...
baseada num toque muitíssimo sutil...
como por exemplo...
o toque sutilíssimo...
de um pulsar de leves contrações-musculares...
que... ao contactarem discretamente... a pele do outro...
seriam capaz de emitir um convite...
à uma relação de amizade...
... à uma amizade direcionada a uma meta...
bem objetiva:... a cama...
normalmente a cama de um motel...
ou... a poltrona do banco-de-trás de um automóvel...
ou mesmo... um par-de-poltronas...
... no escurinho-do-cinema da rita-lee...
e... todo esse conjunto de toques-sutis...
faziam parte do repertório mais avançado...
da sequencia-oficial... dos exercícios-de-ballet...
a sedução indiscriminada...
a visão-de-mundo baseada no índice-estatístico...
da quantidade-de-relações-sexuais-por-minuto...
índice este... muito presente em nossa filosofia...
... na filosofia dos dançarinos profissionais...
e semi-profissionais...
da academia nino-giovanetti...
... onde... uma viagem ao sub-mundo...
fazia parte do dever-de-casa...
do aspirante às artes coreográficas...
--- --- ---
e eu... acostumado a levar a sério...
qualquer tipo de estudo...
levava também a sério...
a cartilha filosófica do ambiente artístico...
ao qual... estava envolvido...
--- --- ---
e... voltando ao "menu-principal"...
estávamos eu e lenira...
na piscina do sheraton...
perto do vidigal...
eu... "curtindo" o fato de estarmos num hotel de muitas estrelas...
aproveitando o lazer momentâneo de estar numa espécie de clube...
sem pagar a devida mensalidade...
... não imaginava que minha namorada lenira...
tinha outros planos bem mais ambiciosos...
--- --- ---
deitamo-nos num par daquelas super-cadeiras-reclináveis-brancas...
típicas dos hotéis-com-piscina...
e ficamos alguns minutinhos lá...
até o momento em que...
nossa atenção se dirige...
a um dos nossos vizinhos-de-cadeira-de-piscina..
... pelo fato de ele estar...
com uma câmera sofisticadíssima... de fotografar...
ou seja... uma nikon... ou coisa-parecida...
papo vai... papo vem...
exercitei meu inglês...
com nosso recém-conhecido amigo...
... que se chamava... chris...
e... após exercitar também...
a função de intérprete-tradutor...
decidimos os três... irmos ao seu quarto...
para fazermos um estudo-fotográfico...
visando retratar o corpo belíssimo... da lenira...
... dentro de seu biquini branco...
que contrastava com sua pele dourada do sol...
e eu... ainda entorpecido com aquela mentalidade-mesquinha...
de aproveitar tudo o que é... "de- graça"...
pensei com meus botões...
" pelo menos fazemos um ensaio-fotográfico da lenira...
podemos ficar com as fotos...
... é... legal... ficamos com as fotos "...
--- --- ---
além disso... existia a sensação...
de estarmos penetrando...
cada vez mais...
na essência física do hotel...
o progresso no dever-de-casa...
do estudante-número-um...
da academia nino-giovanetti...
estava indo... a todo-vapor...
... rumo às alturas do hotel...
naquele andar específico...
que o elevador nos deixou...
--- --- ---
nosso recém- "amigo" chris...
abre a porta de seu quarto...
entramos...
... op's... entramos... em termos...
pois lenira... havia sumido...
fomos até o corredor...
e vemos que um dos seguranças...
está conversando com ela...
no sentido de lhe explicar...
que não é permitida...
a entrada de estranhos... nos quartos...
--- --- ---
... nessa altura dos acontecimentos...
eu e o chris resolvemos esperá-la no quarto...
para não gerar um clima de discussão... ou tumulto...
... com a certeza de que... lenira saberia...
como convencer o guarda...
( que nós estávamos ali...
apenas para acompanhar nosso "amigo" chris...
no seu quarto... por um tempo rápido...)
dito e feito...
alguns minutos ( ou segundos ) mais tarde...
aparece lenira... tranquila...
dizendo que estava tudo resolvido...
( depois me contou os detalhes...
... de como a coisa foi "resolvida"... )..
--- --- ---
ok... ( voltando ao quarto )...
estávamos os três no quarto...
prontos para o ensaio-geral...
( da escola-de-samba-de-vila-isabel )...
ou seja...
prontos para o tal... ensaio-fotográfico...
o "fotógrafo" chris...
fez o que qualquer um faria em seu lugar...
simplesmente pegou a câmera...
focalizou... e... iniciou seu "trabalho"...
poses... e mais poses...
"cliques"... e mais "cliques"...
e eu... meio sem saber o que fazer...
naquela situação patética...
ficava me distraindo no espelho...
esticando alguns cachos do meu próprio cabelo...
evitando... desta forma...
olhar a realidade tal qual ela estava alí...
... se apresentando...
( essa era... em geral...
a atitude escolhida...
em situações desse tipo...)
--- --- ---
naquela época...
sempre que acontecia de existir uma situação...
onde eu... minha namorada... e um terceiro cara aparecia na "jogada"...
a minha tendência...
era a de evitar olhar para a situação...
eu preferia "pagar-pra-ver"...
preferia não interferir...
para ver até que ponto...
a coisa iria chegar...
seria... talvez... uma espécie de maneira...
de eu... de certa forma...
"testar"... até que ponto...
a lenira seria fiel... ( ou não )... a mim...
até que ponto ela seria...
uma espécie de "piranha"... ( ou não )...
só que esse conceito de ela poder ser uma "piranha"...
era algo que era expressamente proibido de entrar...
no meu leque de hipóteses...
eu... simplesmente descartava à força...
a possibilidade de tal hipótese... ser verdadeira...
para mim... tal hipótese não existia...
seria uma hipótese absurda...
--- --- ---
só que os fatos demonstravam que...
a probabilidade de existir... um parafuso-a-menos...
na engrenagem de raciocínio do matemático...
... era enorme...
os fatos demonstravam claramente...
que a hipótese deveria sim...
ser levada em consideração...
mas...
os olhos não veem...
o que o coração...
... se recusa a ver....
--- --- ---
em resumo...
eu... lenira... e o "fotógrafo" chris...
naquela situação esdrúxula...
eu... não sabendo para onde dirigir meu olhar...
a sequencia de fotos...
começa a entrar num ritmo...
cada vez mais intenso...
passo a desviar o meu olhar...
do espelho... para a cena- em- si...
percebo um volume extra...
debaixo da bermuda do chris...
começo a ficar meio... ( bastante )... chateado...
sem saber o que fazer...
diante de tal situação...
de repente o chris...
propõe que ela tire a parte do sutiã do biquini...
ela concorda...
... conto os segundos...
para que tudo termine...
e possamos sair daquele inferno...
o carretel-do-filme-de-36- fotos... acaba...
( naquela época não existia câmera-digital )...
peço o filme...
ele me dá...
tchau... tchau...
saímos da aventura...
--- --- ---
já no fusquinha-vermelho...
pergunto o que foi que houve...
com o segurança...
ela me conta que um beijo-na-boca...
resolveu o problema...
--- --- ---
essa foi a fase...
... pré-casamento...
um casamento que durou sete anos...
não me arrependo...
tivemos dois lindos filhos...
que os amo... muitíssimo...
--- --- ---
um casamento é sempre um casamento...
no meu caso...
começou com o pé-esquerdo...
--- --- ---
mas...
...não quero fazer dessa pequena estória...
um muro-de-lamentações...
... não !...
a lenira não era uma má pessoa...
no fundo... uma menina bem legal...
toda essa fofocada que acabei de contar...
se deu apenas...
na fase inicial do nosso relacionamento...
na fase... digamos... de namoro...
essa e outras estórias semelhantes...
ocorreram... partindo meu coração... inúmeras vezes...
mas... depois que nos casamos de fato...
no sentido de morarmos juntos...
a coisa... ( pelo menos aparentemente )...
se estabilizou...
éramos um casal tranquilo...
onde... ( pelo menos aparentemente... ( repito )...)...
um respeitava o outro...
os sete anos de casados...
não foram tão ruins assim...
eu trabalhava de "montão"...
dando aulas-de-matemática em vários colégios...
e ela... de certa forma...
cuidava bem da casa...
e das crianças...
éramos uma família... de certa forma...
... feliz...
portanto...
meu objetivo ao escrever...
essas pequenas "fofoquinhas"...
a respeito da fase pré-casamento...
... tem... como única intenção...
tentar dar continuidade... ao espírito-das-18-cartas...
ou seja...
um relato auto-biográfico... com várias digressões reflexivas...
sobre nós... seres humanos com nossas alegrias... e... dramas...
tal relato sofreria uma enorme mutilação...
caso eu me auto-censurasse...
e não incluísse...
estórias desse tipo...
cujo objetivo... é...
tentar descrever eventos ocorridos em minha vida...
eventos esses que naturalmente geram reflexões...
sobre como eu lidava com tais eventos...
e... essa minha "resposta"... ( ou "não-resposta" )... a tais eventos...
gera também... novas reflexões sobre as diversas abordagens...
que poderiam ser adotadas...
diante de situações desse tipo...
ou mesmo antes... ( preventivamente )... que tais situações aconteçam...
no caso... uma situação...
que foi consequência natural...
de uma visão-de-mundo... distorcida...
imatura...
patológica...
que se refletia na minha própria maneira de ver...
e de me relacionar... com minha companheira...
--- --- ---
nós seres-humanos somos... lindos... sensíveis... etc...
e... também... muitas vezes... bastante complexos...
... bastante complicados...
muitas vezes nos sentimos meio perdidos...
sem saber como nos conduzir...
perante certas situações...
como por exemplo...
quando eu me encontrava...
meio perdido...
acompanhado apenas...
da minha própria aflição...
eu... e minha aflição...
juntos...
perdidos...
... diante do espelho...
... do sheraton-hotel...
--- --- ---
me despeço...
desejando... muita paz... pra você...
um grande abraço...
...luis antonio...