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Depois dessa breve digressão ao futuro...
podemos voltar ao ponto onde estávamos...
ou seja... ao período entre 69 e 72...
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as influências que o richard... ( juntamente com sua mãe )...
tiveram sobre minha maneira de encarar o mundo foram...
de certa forma... muito benéficas...
conforme mencionado anteriormente... foi graças a eles...
que eu fui introduzido ao mundo da filosofia-oriental...
ou seja... ao mundo da yoga... da respiração-purificadora...
dos pensamentos de gandhi...
dentro desse "pacote" estava indiretamente incluído...
o cuidar-do-corpo...
( dentro do contexto "mens sana in corpore sano"...)...
sendo assim... quando eles me convidavam para almoçar lá...
eu assistia... ( e participava de )... toda aquela refeição...
não só super-vegetariana... como também...
repleta de suplementos naturais...
balanceados de acordo com os conhecimentos especializadíssimos...
que a mãe do richard tinha...
no campo da nutrição...
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ovo normal...?
nem pensar... o ovo teria que ser de capoeira...
feijão normal...?
nem pensar... teria que ser feijão-de-soja...
arroz...?
só integral...
salada...?
era aquela quantidade enorme de folhas...
antes da refeição...
lavadas usando toda uma técnica especial...
suco de laranja...?
só feito na hora... ( sem açúcar... é claro...)...
e deveria ser tomado meia-hora antes do almoço...
para ir abrindo o espaço para os alimentos...
mas... atenção...!
deveria ser tomado meia-hora antes da refeição-principal...
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eu... adorava toda essa novidade...
além da comida ser boa e saudável...
era também... saborosa...
aquele grão-de-bico... super delicioso...
sentia que os alimentos realmente traziam uma boa vibração...
uma energia boa para o organismo...
mens sana in corpore sano...
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o cuidado com o corpo...
exigia também uma seleção mais cuidadosa das praias que seriam...
as mais aconselháveis para frequentar...
ao invés de irmos para ipanema...
( que já era um pouco poluída... mesmo nessa época...)...
optávamos para ir ao recreio-dos-bandeirantes...
ou à praia vizinha... a praia-da-macumba...
onde a água... nessa época...
era... realmente... puríssima...
... um oceano... ainda virgem...
todos esses cuidados... aparentemente... "burgueses"...
tinham uma finalidade oposta:...
a espiritualidade...
... a meditação-yogue...
onde a mente se silenciaria...
e nós transcenderíamos o "sansara" do mundo material...
do mundo "profano"...
do mundo "mundano"...
... rumo ao "nirvana"...
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e... toda essa preocupação com a seleção-dos-alimentos...
... a seleção da praia...
o refúgio na vilazinha de mauá...
( na fronteira entre os estados de minas e rio...)...
... fazia com que... no fundo...
nós adquiríssemos um estilo-de-vida...
altamente sofisticado... altamente burguês...
e... paradoxalmente oposto...
àquilo que pregávamos...
ou seja:...
à simplicidade gandhiana...
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em resumo...
éramos dois rapazes de uns 16 anos-de-idade...
onde tentávamos selecionar as coisas que rotulávamos de "puras"...
das que eram desprezadas como... "impuras"...
e... o tipo-de-música não escapava à tal filtragem...
a música deveria ser boa...
uma música que servisse de inspiração...
às nossas meditações yogues...
é claro que... dentro desta perspectiva...
não iríamos considerar aquilo que... ( naquela época )...
estávamos julgando como... "lixo"...
como por exemplo... "coisas-barulhentas"...
como o rock-and-roll...
ou mesmo a música popular em geral...
e... em particular... a música popular brasileira...
deveríamos saber separar...
o "joio do trigo"...
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por outro lado... as aulas-de-piano continuavam a todo-vapor...
( as aulas aconteciam nas segundas-feiras )...
às 8 horas da manhã...
toco a campainha do apartamento do professor...
( ele ) :... luis !!... que beleza... !...
há quanto tempo... rapaz...
quais as novidades...
tudo bom...?...
( eu ) :... beleza... tudo tranquilo...
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a sessão-da-aula começava...
normalmente o tempo-de-aula era preenchido de uma forma bem solta...
... bem flexível...
o professor não se sentia constrangido em tomar...
às vezes... 80% do tempo-de-aula...
batendo altos papos sobre diversos assuntos...
assuntos bons...
assuntos relevantes...
( não era um papinho superficial...
... algo sem substância... )...
dentro desse estilo-de-aula...
podemos talvez dizer... ( muito a grosso-modo )...
que as aulas fossem... em média...
... 80% de papo...
... 20% de piano...
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embora na época... eu estivesse na maioria das vezes...
torcendo para que a aula tivesse 100% do seu tempo...
dedicado à prática do piano-em-si...
... hoje em dia... sou muitíssimo agradecido ao professor...
por ter aplicado tal fórmula...
(... 80% papo... 20% piano... )... comigo...
... pois... foram graças a esses preciosíssimos "papos"...
que eu... felizmente... tive a oportunidade de ver o mundo...
com outros olhos...
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numa dessas segundas-feiras...
minha mente ainda estava impregnada...
com aquela visão-de-mundo... bem separatista...
bem seletiva...
bem dentro do referencial... "joio-e-trigo"...
que falamos ainda há pouco...
e... durante a aula...
num dos nossos ( frequentes ) papos-filosóficos...
deixei "escapar" essa "preciosidade" de frase:
( eu ) :... " não gosto de música popular ...
só gosto de música clássica "...
( o professor ):.. " é... interessante essa sua observação...
agora... vamos imaginar o contrário...
suponha que chegue um outro aluno meu... aqui...
e diga: " não gosto de música-clássica...
só gosto de música-popular "...
não estaria ele...
deixando de ter a oportunidade...
de conhecer obras belíssimas...
dentro da esfera da música erudita...?
beethoven... schumann... chopin... mussorgsky...
obras lindíssimas que ele estaria deixando de apreciar...?
só porque ele... por algum motivo...
resolveu se fechar...
não se permitindo um acesso...
a esse mundo maravilhoso... da música clássica...?
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( tal inversão me pegou de jeito...
pois como eu... na época... amava a música clássica...
ele... ao fazer tal inversão...
fez com que eu sentisse na "própria pele"...
o quanto seria lastimável se alguém pensasse o contrário...
ou seja... se alguém detestasse música-clássica... )
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ele continuava... ( desta vez já "des-invertendo" a metáfora ):
( o professor ):... " analogamente se eu digo:
... " gosto de X... não gosto de Y "...
eu estaria me auto-excluindo...
da possibilidade de experimentar...
o que Y poderia me oferecer "...
( no caso... a música popular...)
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... essa explicação...
... essa metáfora...
... essa inversão... sobre o meu próprio discurso...
... foi o suficiente para que eu...
finalmente... acordasse para o mundo...
acordasse para um mundo de novas possibilidades...
deixasse... finalmente... de lado...
aquela visão super-seletiva... do tipo...
isso "presta"... aquilo "não-presta"...
tal metáfora foi o suficiente para que eu...
pudesse considerar que...
é possível encontrar também... na música popular...
obras lindíssimas...
... peças que "toquem" nossa alma...
tanto quanto a música erudita...
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e... essa abertura...
essa nova visão-de-mundo...
não era restrita apenas à bipolaridade...
música-popular... música-erudita...
aplicava-se também à outras áreas...
como por exemplo:
... arquitetura-clássica... barroca... etc...
... arquitetura-moderna... contemporânea... etc...
medicina-tradicional-milenar-chinesa...
medicina-ocidental-moderna-com-equipamento...
... matemática-pura-e-filosófica...
... matemática-aplicada... ( engenharia... etc...)...
cinema-de-arte...
cinema "não-tão-de-arte-assim"...
enfim...
a abertura passou a ser total e ampla...
a partir daquela aula histórica...
uma abertura que deixava para trás...
... os preconceitos anteriores...
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da mesma forma que havia um preconceito contra a música-popular...
endeusando apenas a música-clássica...
... eu provavelmente deveria estar também...
vendo minha irmã mais nova... a clarice...
com o mesmo olhar discriminatório...
não que eu a desprezasse...
mas... talvez não me interessasse em "perder-o-meu-tempo"...
dando um mínimo de atenção para ela...
numa época em que eu tinha 18 anos-de-idade...
e ela... 14...
mas... graças à abertura ampla-e-total...
todas essas coisas...
todos esses assuntos...
que antes não me despertavam interesse...
passaram a ter... dentro de mim...
um novo espaço no meu recém-adquirido...
leque-de-interesses...
e... dentro desse novo leque...
surgiu minha-própria-irmã-mais-nova...
como uma pessoa... que...
poderia ter várias coisas para trocar comigo...
papos... idéias...
era um ser-humano ali... do meu lado...
morando na mesma casa em que eu morava...
cheio de assuntos para trocar...
para conversar comigo...
... mas que antes... eu... simplesmente não percebia...
ao viver fechado... dentro daquele terreno estéril...
da mentalidade da eterna seleção-super-seletiva...
... da eterna discriminação...
... do "joio e do trigo"...
quando... na realidade...
o professor-de-piano habilmente me fez ver...
que esse negócio de "joio-e-do-trigo"...
é uma grande "palhaçada"...
isso não existe...
o que existe é...
música-boa... e... música-ruim...
independentemente de ser popular ou clássica...
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e... esse novo olhar...
onde tudo poderia ser considerado...
como uma possibilidade de um enriquecimento...
acabou por me fazer... perceber...
que... ali... diariamente morando comigo...
existia minha irmã... e... por que não... ( ? )...
além de irmã... uma amiga...
onde eu poderia trocar idéias...
me enturmar com seus amigos...
... com suas amigas...
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na medida em que eu me permiti...
considerar a turma dela...
como minha turma...
na medida em que eu...
me permití ser introduzido...
ao grupo dela...
... aconteceu algo inesperado na minha vida:
fui aceito de "braços-abertos" por todos...
e... a partir daí...
todos nós ficamos satisfeitos:
eles... por terem o prazer de conhecer um cara mais velho...
um cara interessante...
meio excêntrico...
mas que todos sabiam que essa excentricidade...
era superficial...
no fundo eu era que nem todos eles...
um cara estudioso...
com bons princípios... etc...
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e... como na época...
eu já namorava a fabiana...
... isso reforçava ainda mais...
a tendencia de o ambiente entre nós...
ficar bem descontraído...
( já que eu não estava no "perigo"...
ou... "desesperado"...
atrás de nenhuma namorada...)...
então... foi uma época boa...
houve um saldo-positivo para todos:
para mim... para minha irmã...
e... toda sua turma-de-escola...
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em resumo...
o "toque" do professor-de-piano...
naquela segunda-feira histórica...
foi realmente... revolucionário...
no bom sentido...
para citar apenas uma...
dentre as milhares de consequências da tal abertura...
pude experimentar a felicidade de viver num grupo-de-pessoas...
trocando idéias...
indo à festas... dançando...
... enfim... participando da turma-de-escola... super-legal...
... da minha irmã clarice...
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hora de dormir...?...
hora de dormir...
boa noite...
até já...
um grande abraço...
...luis antonio...